20 de out. de 2017

Pastoral Litúrgica e evangelização

Na prática, fazer pastoral é dinamizar a comunidade com as características do Bom Pastor (Jo 10). Características tais como: amar o povo, conhecer a comunidade, mostrar o caminho seguro, ser uma porta para que as pessoas acessem o redil do Evangelho e o transformem em fonte de vida. A finalidade de toda pastoral, em última análise, consiste em assumir o mesmo projeto de Jesus Bom Pastor: “eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10). Por isso, a Pastoral Litúrgica não tem, como finalidade primeira e principal, criar belas e atrativas celebrações, mas ser e propor em cada e em todas as celebrações o encontro com Jesus, a fonte da vida plena. Assim, entende-se o valor evangelizador através da Liturgia na formação de uma comunidade de discípulos e discípulas do Evangelho. 
Uma primeira dedução é não transformar a Equipe Litúrgica, que coordena a Pastoral Litúrgica Paroquial em — apenas — uma equipe de criatividade celebrativa. Digo “apenas”, porque a criatividade litúrgica é importante, e torna-se ainda mais importante à medida que entende seu trabalho não para fazer o que “o povo gosta”, mas, para conduzir a comunidade, qual Bom Pastor, nos caminhos do Reino de Deus, que é o caminho do discipulado. O critério principal da pastoral, em síntese, é favorecer o crescimento do discipulado e isso acontece numa comunidade evangelizada.

Lembrando a Palavra da Igreja
Em sua carta pastoral para o início de milênio, São João Paulo II, na “Novo Millenio Ineunte”, ao traçar um plano de pastoral para a Igreja nesta nova etapa da história, pede que toda atividade pastoral olhe para Jesus Cristo, para o seu modo de agir, para o seu modo de ser, para o seu modo de tratar o povo, para que nele se inspirem todas as atividades pastorais. Diz o Papa:

“Agora, já não é uma meta imediata que se apresenta diante de nós, mas o horizonte mais vasto e empenhativo da pastoral ordinária. No respeito das coordenadas universais e irrenunciáveis, é necessário fazer com que o único programa do Evangelho continue a penetrar, como sempre aconteceu, na história de cada realidade eclesial.” (Novo millenio ineunte, n. 29).

Interessante observar que o texto do Papa fala de “o único programa do Evangelho”. Quer dizer, a fonte de toda Pastoral é o Evangelho, ilumina-se no Evangelho e tem por finalidade evangelizar, isto é, colocar o Evangelho na vida das pessoas e nos relacionamentos sociais.  
Ora, isso é extremamente significativo para a Pastoral Litúrgica. Em todas as celebrações, a Igreja celebra o Evangelho, proclama o Evangelho, orienta (homilia) como viver o Evangelho no cotidiano da vida, introduz no caminho do Evangelho (Iniciação Cristã), perdoa quem se desvia do caminho do Evangelho (Penitência) e assim por diante. Nisto se fundamenta a criatividade litúrgica: em celebrar a presença de Jesus (SC 7), que é sempre presença evangelizadora. Ou seja, a Pastoral Litúrgica não tem a preocupação de fazer bem e fazer bonito para transformar as celebrações em espetáculos, mas em vista da evangelização.

Pastoral para o nosso tempo e nossa comunidade
A primeira parte do texto de São João Paulo II, na “Novo Millenio Ineunte”  faz referência ao empenho que a Igreja é chamada a fazer neste novo milênio. O ponto central do texto consiste em mostrar que a Pastoral, nas suas mais diferentes manifestações, tem uma única finalidade: fazer com que o Evangelho, os valores evangélicos, penetre cada mais no relacionamento humano, penetre na sociedade, penetre na comunidade. Para isso se orientam os programas e estratégias pastorais. Lembrando o texto: “é necessário fazer com que o único programa do Evangelho continue a penetrar, como sempre aconteceu, na história de cada realidade eclesial.” 
O programa pastoral, portanto, tem a mesma identidade do programa do Evangelho, mas com um detalhe que necessita atenção: penetre “na história de cada realidade eclesial”. Isso significa que cada comunidade anuncie, celebre e viva o Evangelho com os valores e com a linguagem própria da comunidade. Do ponto de vista Litúrgico: anunciado e celebrado com os valores e com a linguagem da comunidade.
Esta, reconheçamos, é a tarefa mais exigente e mais árdua da Pastoral Litúrgica. Estou falando de inculturação litúrgica, um desafio que nunca deixa sossegada uma Pastoral Litúrgica autêntica e dinâmica. Neste contexto, entende-se que o plano da Pastoral Litúrgica Paroquial precisa conhecer as ovelhas (“pelo nome”, diz Jesus), isto significa que a exigência leva a conhecer as necessidades espirituais, pessoais e sociais do povo da comunidade. Quando isso acontece, então sim, se pode dizer que a comunidade celebra a vida do povo. Eis o desafio da Pastoral Litúrgica. Um belo desafio, penso eu.
Serginho Valle

Outubro de 2017
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