30 de set. de 2017

Liturgia e Reino de Deus

O empenho em favor do Reino de Deus é uma constante na Liturgia. Muitas são as celebrações Dominicais e semanais da Eucaristia que convidam os celebrantes a se empenharem em favor do Reino de Deus. Nas celebrações do Tempo Comum, do Ano A, por exemplo, a proposta de se empenhar em favor do Reino aparece de modo bem claro na trilogia da vinha. Cada celebrante é convidado a trabalhar na vinha do Senhor. Vinha que simboliza o Reino de Deus enquanto atividade dinâmica de quem cultiva e produz frutos. Vamos analisar dois Domingos: 26DTC-A e 27DTC-A para perceber a sua dinâmica pedagógica.

O convite para trabalhar na vinha do Senhor jamais deixou de ecoar em todos os cantos da terra, como proposto no 26DTC-A. Um convite que nos faz compreender a fé como atitude e como atividade no meio do mundo. A vinha do Senhor não é a Igreja, mas toda a terra, toda a sociedade, o local onde o Reino — apresentado em forma de vinha — precisa ser cultivado. Os frutos da Vinha do Senhor são produzidos em nossas comunidades à medida que nos servimos da força da fé para produzir frutos do Reino de Deus, na sociedade onde vivemos.

O convite e a proposta para cultivar o Reino, simbolizado na Vinha do Senhor, aparece na celebração do 27DTC-A incentivando os celebrantes a abrir os olhos ao projeto divino de formar um povo novo, que produza os frutos da vinha em forma de justiça e bondade. Convite de quem está disposto a assumir o compromisso de participar ativamente do cultivo da vinha do Senhor ocupando-se daquilo que Paulo propõe na carta aos filipenses (2L do 27DTC-A): ser um povo novo que se ocupa "de tudo que é verdadeiro, respeitável, jutos, puro, amável, honroso, tudo que é virtude ou de qualquer modo mereça louvor". É fazer parte de um povo novo, promotor e cultivador da paz de Deus em toda a terra. A paz, juntamente com a bondade e a justiça, além de outros, é um dos frutos da Vinha (Reino) do Senhor no meio da sociedade.


Banquete do Reino
Depois da trilogia da vinha, a Liturgia do 28DTC-A propõe o projeto do Reino de Deus através do símbolo do banquete nupcial. Todos estão convidados para participar do projeto divino, proposto como um banquete, momento para se selar um compromisso e responsabilidade com o projeto divino. A recusa do convite é sinal de desinteresse pelo projeto divino. Uma maneira de participar deste banquete está na 2ª leitura do 28DTC-A: viver sobriamente e serenamente tendo pouco ou tendo muito. A sobriedade é um valor do Reino de Deus. Aquele de não se apegar aos projetos do mundo para obter lucros, mas viver de modo sereno e sóbrio terá mais condições de cultivar o Reino de Deus.

Outro modo de cultivar serena e sobriamente o Reino de Deus é reconhecendo que somente Deus é o único Senhor e seu poder jamais será substituído por nenhum poder terreno. A moeda de compra e venda pertence a César, mas o povo e cada membro do povo pertencem a Deus, que é Senhor de todos os povos da terra. A moeda de César facilmente pode tornar-se um ídolo que impede de dar a Deus o que é de Deus: a adoração, o louvor, a glória, a vida. É desse modo, que a Liturgia do 29DTC-A proclama que Deus é o Senhor de todo o universo e seu poder se estende até os confins da terra. Esta é uma feliz proclamação que a Liturgia que o “Domingo Missionário” faz a toda a humanidade, convidando a reconhecer que não existe outro poder senão o poder do nosso Deus e Senhor.

Serginho Valle
Outubro de 2017





22 de set. de 2017

A prioridade da Pastoral Litúrgica na Paróquia

A Instrução Geral do Missal Romano, n. 313, pede que as celebrações não sejam improvisadas. Uma espécie de aviso para compreender que, na Liturgia, nada deve ser feito de improviso e, ainda mais, que a improvisação jamais deveria ter lugar em nossas comunidades. Improvisação indica desleixo, relaxamento. Se considerarmos que as celebrações são o espelho da comunidade, entende-se que celebrações improvisadas indicam comunidades desleixadas. Para evitar esse mal-estar, existe a necessidade de organização, espiritualidade e formação.

Em minhas andanças pelo Brasil, no tempo que ministrava cursos de Liturgia, encontrei padres, diáconos e leigos que colocavam resistência para implantar a Pastoral Litúrgica organizada na Paróquia. A realidade, infelizmente, era esta: existiam pessoas que não queriam, e faziam de tudo para impedir a organização da Pastoral Litúrgica na comunidade paroquial. Confesso que não consigo fazer uma avaliação profunda da realidade atual, mas espero que isso tenha mudado.

Eu publiquei pela Loyola, anos atrás, um livro chamado “Pastoral Litúrgica, uma proposta um caminho”. A editora tirou o livro de circulação e eu o republiquei em formato de ebook, que pode ser encontrado no meu site – www.liturgia.pro.br -. Outros autores também trabalharam este tema da organização da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP). A CNBB, inclusive lançou uma espécie de manual — “Guia Litúrgico-Pastoral” — no ano de 2006, com indicações claras da organização da PLP. Quer dizer, material existe.

A organização da Pastoral Litúrgica Paroquial não é um capricho próprio ou uma moda passageira na Igreja. A organização da Pastoral Litúrgica obedece a uma hierarquia organizacional que tem como cabeça o Vaticano, passa pelas Conferências Episcopais de cada país, passa pelas Igrejas particulares até chegar nas comunidades paroquiais. Este esquema está bem descrito na Sacrosanctum Concilium (Cf. SC 43-46). Por isso, não ter a Pastoral Litúrgica organizada é sinal de comunidade marcando passo há bom tempo.   

Em se tratando de PLP, sempre gosto de lembrar que quem trabalha com a Pastoral Litúrgica e, de modo particular, quem fará parte da Equipe Litúrgica, não terá muito tempo para atuar em outras pastorais, pois os trabalhos serão muitos: reuniões, formação, planejamento, celebrações especiais.... Quem entra na PLP deve estar preparado e consciente que terá muito trabalho pela frente.
Os aspectos que ressaltei neste primeiro momento têm o objetivo de mostrar, em linhas gerais, o contexto pastoral em que se está entrando. Considerar que se trata de uma Pastoral que se caracteriza como prioritária na Paróquia e que não se resume em listas de atividades — quem fará leituras, por exemplo — colada na parede da sacristia, como infelizmente ainda se vê em algumas paróquias. É preciso ter consciência que boa vontade é ótima e até necessária, mas não resolve os problemas. Para que a Pastoral Litúrgica Paroquial seja eficaz e proativa, há necessidade de pessoas que se disponham a fazer um caminho de formação, de estudos e de espiritualidade para não trocar os pés pelas mãos na condução das atividades da Liturgia Paroquial. Pessoas que sejam capazes de realizar um planejamento, por exemplo, para alcançar objetivos específicos da PLP de cada comunidade. Pessoas, principalmente, que amam a Liturgia e a entendem como culto de louvor e adoração a Deus e como caminho evangelizador da comunidade.
Serginho Valle
Setembro de 2017



15 de set. de 2017

Ritos finais da Missa

Os ritos finais da Missa, como em todos os Sacramentos, são marcados pela brevidade. No caso da Missa, consta praticamente de um rito invocativo de bênção. Acrescente-se ainda um momento para as comunicações comunitárias e o envio.
Embora seja costume cantar um "canto final", como se diz, não se contempla nenhuma canção nas orientações da Instrução Geral do Missal Romano (IGMR). Depois do envio, os celebrantes são convidados a se retirarem da igreja. Direi uma palavra sobre o canto final, na conclusão deste artigo. 

Avisos paroquiais
            Os avisos paroquiais estão previstos na IGMR 166. O texto não fala de “avisos paroquiais”, como dizemos, mas “breves comunicações”. São comunicados breves, portanto, daquilo que deverá acontecer na comunidade.
            Comunicações breves e compreensíveis. Isto significa considerar o tema da comunicação, a data da realização, o horário e o local, quando isto for necessário. Outras comunicações, como aqueles de organização comunitária, obedece o mesmo critério de objetividade.
            Quanto ao momento das comunicações, este deve acontecer após a oração depois da comunhão. Isto significa que é a oração depois da comunhão que conclui o Rito da Comunhão e não os “avisos paroquiais”. O ideal, como já fazem algumas comunidades, que os “avisos paroquiais” sejam comunicados depois da bênção final.

Compromisso concreto 
Não consta nas IGMR nenhuma indicação de compromisso concreto. Quem acompanha minhas propostas celebrativas pelo site do Serviço de Animação Litúrgica – SAL (www.liturgia.pro.br)  – está acostumado com uma orientação de "compromisso concreto" depois da oração pós-comunhão.
Na prática, o compromisso concreto da celebração é proposto na homilia e pela homilia. Nada obsta, contudo, que depois da comunhão, depois de se comprometer com a proposta comungada na Mesa da Palavra, seja confirmado ou reproposto o compromisso que se assume concretamente em cada celebração. Um fundamento evangélico para tal finalidade encontra-se na conclusão da parábola do Bom Samaritano, quando o doutor da Lei responde quem foi o próximo do homem caído por terra; Jesus conclui dizendo: “vai e faça você o mesmo” (Lc 10,37). Este é o sentido que deveria ser dado, inclusive, a todo envio conclusivo da Missa: “vai e viva aquilo que você ouviu e comungou na celebração”. É o compromisso concreto presente em cada celebração para melhor viver o discipulado no cotidiano.
Em algumas celebrações, o compromisso concreto tem caráter pessoal, em outras tem caráter comunitário e, em algumas tem até mesmo caráter pastoral. Se uma Palavra, por exemplo, proclamar o cuidado para com doentes, o compromisso concreto poderá propor um incentivo à Pastoral da Saúde. 

Rito de bênção 
O rito de bênção é proposto pelo Missal em três modalidades: simples, oração sobre o povo e solene. 
A bênção simples é feita com a saudação do "Senhor esteja convosco", seguida da fórmula "abençoe-vos", com o padre traçando o Sinal da Cruz sobre a assembléia, e cada celebrante traça o Sinal da Cruz sobre seu corpo.
A bênção com a “oração sobre o povo” segue a mesma dinâmica, mas conta com a inclusão de uma invocação orante em favor dos celebrantes ou em favor da comunidade ou, ainda em favor da Igreja. Há uma riqueza de intenções muito grande nas “orações sobre o povo” que merecem ser exploradas pelos padres e pelas equipes de celebrações.
A bênção solene, além da invocação de  "o Senhor esteja convosco", é formulada com três invocações, das quais os celebrantes participam com um amém depois de cada intercessão. Segue-se depois o Sinal da Cruz traçado sobre os celebrantes.  Também neste caso, existe uma grande riqueza de intenções, como referido para as “orações sobre o povo”.
Pessoalmente, considero as fórmulas propostas pelo Missal muito ricas em conteúdo. Como nem sempre correspondem ao contexto celebrativo de cada Domingo, as mesmas podem ser criadas, inspirando-se na Palavra proclamada em cada celebração. Assim, se a Palavra leva a contextualizar a celebração comprometendo os celebrantes com o projeto do Reino, a invocação de bênção será realizada neste temário.  É preciso, contudo, manter-se fiel ao estilo próprio do Missal Romano para o rito de bênção e não fazer de cada invocação um pequeno discurso ou incluir invocações devocionais ou sentimentais.

Envio e conclusão
A conclusão da Missa acontece com uma fórmula de envio, feita pelo diácono, quando este estiver presente. Na ausência do diácono é o padre quem faz o envio com uma fórmula do Missal ou criada por ele próprio.
O envio poderá ser feito de modo simples, com a tradicional fórmula do "ite Missa est", traduzido para o português com "ide em paz, a Missa terminou".  O Missal propõe outras fórmulas de envio que merecem ser consideradas. Além destas fórmulas, como apenas dito, seria interessante que o padre ou o diácono crie uma fórmula de envio a partir do contexto celebrado, iluminando-se na Palavra da celebração. Vale o lembrete que, como dito para as fórmulas de bênção, não seja um breve discurso, mas uma frase no estilo litúrgico próprio do Missal.

Canto final
            Como adiantado acima, a IGMR não propõe um canto para acompanhar o final da Missa. A orientação para a conclusão da celebração propõe a bênção e o envio (IMGR 168-170). Conclui dizendo que após a bênção, o padre beija o altar e todos se retiram.
É equivocado, portanto, do ponto de vista litúrgico, aquele costume de alguns padres convidarem a cantar o canto final antes da bênção. Equivocado, primeiro, porque não existe “canto final” e, depois, porque a IGMR orienta a deixar a igreja sem cantar após o envio.  
Mas, o canto pode existir sim, como canto de acompanhamento da dissolvência da assembléia. Neste caso, trata-se de um canto relacionado à Palavra da celebração ou, até mesmo, que reforce o compromisso concreto, proposto na homilia, por exemplo. Em algumas celebrações, como aquelas de memória ou de festa, canta-se uma canção relativa à memória ou festa litúrgica.

Nossa Senhora, santos e santas
            Muitas comunidades introduziram a oração da Ave Maria ou uma antífona mariana, como a “Salve Regina” (Salve Rainha) ou outra antífona conhecida. Isso ganhou mais peso com o dado devocional de Papa Francisco após a Missa, de rezar aos pés da imagem de Nossa Senhora.  
            Nada contra esta prática, desde que se considere que a mesma aconteça depois da bênção final. A questão é teológica-litúrgica. Na celebração litúrgica a Igreja dirige suas preces, louvores e adoração unicamente ao Pai, por Cristo, no Espírito Santo. Não dirige a Nossa Senhora e nem aos santos e santas. Por isso, seja observado este princípio (inclusive na Oração dos fiéis) e preste-se homenagem a Nossa Senhora (ou a algum santo ou santa) depois da bênção final.


Conclusão
            Esta conclusão diz respeito a todos os artigos de cada uma das partes da Missa a partir do processo comunicativo litúrgico-celebrativo publicados aqui no blogger. Isso significa que meu ponto de vista tem a proposta de ajudar a comunicar-se de modo litúrgico e celebrativo. Reconheço que o tema não é muito aprofundado, como proposto aqui no blogger, uma vez que optei por textos simples e breves, como é próprio da linguagem do blogger. Mas, que isso sirva de motivação para aprofundamentos em estudos e debates promovidos pela Pastoral Litúrgica de cada comunidade.
Serginho Valle
Setembro de 2017


8 de set. de 2017

Oração depois da comunhão

Os ritos da comunhão Eucarística são concluídos com a oração depois da comunhão —collecta post-communionem —. É próprio da Liturgia, que uma coleta conclua um rito. 
O rito conclusivo da Comunhão é muito simples: depois do silêncio ou de uma canção pós-comunhão, o padre coloca-se de pé e convida a assembléia para rezar em silêncio com o tradicional convite: “oremos”. Faz um breve momento de silêncio e proclama a oração depois da comunhão. 
Com uma estrutura que respeita o esquema da “Oração Coleta” própria da Liturgia, o conteúdo desta oração faz referência direta ao Sacramento da Eucaristia comungado pelos celebrantes. São coletas, portanto, marcadas pela Teologia da Eucaristia e pelos efeitos da Eucaristia na vida pessoal de cada celebrante como também na vida de toda comunidade. 
Outra característica diz respeito ao fato de serem orações suplicantes. Regra geral, as coletas invocam o Pai, algumas fazem memória breve de algum aspecto da Eucaristia (mas nem sempre isso se verifica nas coletas depois da comunhão) e são concluídas com uma súplica para que a Eucaristia produza efeito divino na vida do comungante ou da comunidade, repetindo. O conteúdo da súplica, em síntese, intercede a graça de transformar em vida aquilo que foi celebrado e comungado na Eucaristia.  
Exemplo de uma coleta pós-comunhão: 30º Domingo do Tempo Comum:

Ó Deus, que os vossos sacramentos produzam em nós o que significam, a fim de que um dia entremos em plena posse do mistério que agora celebramos. PCNS.

Como elucidado, a coleta proposta como exemplo é dirigida a Deus e, sem fazer memória de algum atributo divino, intercede o efeito do Sacramento da Eucaristia na vida e a garantia de participar um dia da eternidade.

Do ponto de vista comunicativo, só para lembrar, em se tratando de Oração Coleta, esta é presidencial, o que significa que a participação da assembléia é silenciosa, até sua conclusão, quando participa com o amém. É o padre que preside a Eucaristia quem dirige a oração a Deus em nome dos celebrantes. 
Outra anotação, a coleta depois da comunhão não é proclamada do altar, mas da cadeira presidencial.

Temas relevantes 
No meu trabalho de propor propostas celebrativas pelo Serviço de Animação Litúrgica (SAL — www.liturgia.pro.br ), durante praticamente um ano, analisei brevemente as Orações Coletas das Missas Dominicais, de solenidades e festas. Destas, apoiado em pesquisas de especialistas no assunto, destaco alguns temas das “post-communionem”.

- Eucaristia é alimento que fortalece, recria, cura e salva.
- Eucaristia é penhor da Aliança eterna que conduz ao encontro definitivo de Deus.
- Os benefícios de participar da Eucaristia, indicados na coleta depois da Comunhão contemplam viver de modo que agrade a Deus, aprender a desejar os bens eternos, tornar-se participantes da Salvação alcançada por Cristo, presente na Eucaristia,
- A Eucaristia fortalece na luta contra o mal, força para permanecer em Deus.
- Em algumas orações aparece também o tema do serviço, o tema da unidade e da paz promovido pela Comunhão Eucarística.
- Um tema muito forte é a da unidade e a intimidade a Jesus  Cristo.
- Algumas coletas contemplam também o tema de inserção no mundo para transformá-lo a partir do Evangelho.

Serginho Valle

Agosto de 2017
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