26 de abr. de 2017

Oração Eucarística 5 – comunicação gestual

Como em todos os ritos litúrgicos, a Oração Eucarística também conta com expressões corporais, feita com gestos e com posições do corpo. Expressões comunicativas para favorecer quem preside a Oração Eucarística e, ao mesmo tempo, mensagem para quem dela participa através do silêncio e, igualmente, participante da comunicação gestual. Isto significa que, no processo comunicativo da gestualidade, o presidente da celebração poderá estar comunicando-se de modo orante ou, poderá promover ruídos, quando os gestos perdem a força comunicativa por se tornarem mecânicos.
A maior parte dos gestos, na Oração Eucarística, é realizada pelo presidente da celebração. Todos são gestos orantes, como estar em pé, levantar os braços, inclinar-se   bater no peito (Oração Eucarística 1), fazer genuflexão, apresentar e elevar ofertorialmente o Corpo e Sangue do Senhor... Deste ponto de vista, o proclamador da Oração Eucarística reza com palavras e com gestos; com gestos que correspondem às palavras e significados simbólicos, de onde a necessidade do conhecimento da gestualidade litúrgica para uma boa e eficiente comunicação litúrgica e celebrativa.


De pé  
Iniciemos com a posição gestual de estar de pé, tanto da parte de quem preside como dos demais celebrantes. É o gesto mais utilizado na comunicação celebrativa e conta com um significado muito rico, especialmente aplicado à Oração Eucarística.
O sentido e o significado de estar de pé inspiram-se no livro do Apocalipse, onde se lê: “Depois disso, vi uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e língua: conservavam-se em pé diante do trono e diante do Cordeiro, de vestes brancas e palmas na mão, e bradavam em alta voz: A salvação é obra de nosso Deus, que está assentado no trono, e do Cordeiro.” (Ap 7,9-10).
O texto indica que os celebrantes participam da mesma adoração prestada ao Cordeiro vitorioso, com a diferença de os santos e santas estarem diante do trono do Cordeiro e de nós, aqui na terra, estarmos diante do mesmo Cordeiro, mas de modo sacramental. Também nós fomos revestidos com a veste branca, no dia do Batismo, o que nos dá o direito de adorar o Cordeiro Pascal de pé e, juntamente com toda a Igreja, aquela gloriosa (que está no céu) e Igreja militante (nós na terra), cantar a santidade do Cordeiro vitorioso.
Além disso, esse texto do Apocalipse descreve a posição natural de quem é ressuscitado em Jesus Cristo e recebeu a veste branca da filiação divina. Diz o texto do Apocalipse  que eles estavam de pé, diante do Cordeiro, em adoração. O estar de pé é, portanto, posição adorante, de onde ser estranho ao contexto celebrativo da Oração Eucarística, ficar ajoelhado durante toda a Oração Eucarística, embora tal possibilidade esteja prevista na IGMR 43 onde isso for costume.


Ajoelhar-se 
O gesto de ajoelhar-se, realizado pelos celebrantes, no momento da consagração aparece, na História da Liturgia Roma por volta do século XII, num tempo em que a Eucaristia passou a ser considerada mais do ponto de vista devocional que memorial celebrativo do Mistério Pascal de Jesus Cristo. Foi um tempo histórico, no qual havia preocupação exagerada em ver o "milagre Eucarístico" e não tanto em celebrar a Eucaristia como alimento para a vida humana, em Cristo.
Foi nesta época, também, que se introduziu o toque da sineta para avisar o momento de se ajoelhar diante do Santíssimo. Introduziu-se igualmente a apresentação dos dons consagrados para serem adorados pelos celebrantes. Nenhum destes gestos existe na Liturgia Eucarística Oriental.
A reforma litúrgica (1963) cogitou e procurou reformular a gestualidade do ajoelhar-se com a proposta de se ficar de pé no decorrer de toda a Oração Eucarística, mas se preferiu continuar com o ajoelhar-se, de acordo com as tradições de quase todos os povos da terra. A já citada IGMR 43 estabelece que as Conferências Episcopais determinem a posição de ajoelhar durante a Oração Eucarística, de acordo com a índole de cada povo.


Braços abertos
Dos gestos presidenciais, o mais utilizado é a oração de braços abertos, um gesto orante, vindo do modo hebreu de rezar e, presente na Liturgia Romana e igualmente naquela Oriental.
A Oração Eucarística é proclamada, da parte do padre que a preside, na sua maior parte, com os braços abertos, em posição orante. Já tive oportunidade de mencionar em outro texto que o gesto orante dos braços abertos tem o belo significado de se apresentar totalmente livre, aberto e disponível diante de Deus.
Quanto ao gesto orante, na tradição litúrgica, este não se caracteriza como oferente, ou seja, com as mãos estendidas para o alto, em posição de quem oferece alguma coisa, mas com os braços erguidos ao longo do corpo e com as mãos espalmadas para frente, deixando o peito aberto diante de Deus. Mas, o fato de rezar com as mãos abertas em atitude orante não significa nenhum desvio litúrgico. Estou apenas ressaltando a postura tradicional orante com os braços abertos.


Imposição das mãos 
A imposição das mãos é o gesto típico da invocação do Espírito Santo, caracterizado no meio teológico litúrgico como gesto epiclético. O padre impõe as mãos acompanhado de uma oração invocativa ao Espírito Santo, para que Deus envie seu Espírito divino e consagre o pão e o vinho em Corpo e Sangue do Senhor.  


Apresentação do Corpo e Sangue do Senhor
Um dos gestos mais característicos da Oração Eucarística é a apresentação do Sacramento do Corpo e Sangue do Senhor aos celebrantes. Uma prática, como mencionado indiretamente no item sobre “ajoelhar-se”, introduzida na Liturgia Eucarística a partir do século XII, fruto de um crescente devocionalismo para com a Eucaristia.
Já comentado em outra oportunidade, a IGMR 179 orienta a apresentar o Sacramento à assembléia e não ostentar. O mesmo se lê na rubrica 91 da Oração Eucarística I: “Hostiam consacratam ostendit populo”, traduzido pela CNBB: “mostra ao povo a Hóstia consagrada”. As rubricas propõe a apresentação simples e não se contempla o erguer, o elevar o Pão e o Vinho consagrados, ou girando-o para todos os lados da igreja e, menos ainda, o que pode ser qualificado como exagero, caminhar pela igreja com o Corpo e Sangue do Senhor. A adoração ao Santíssimo, na Eucaristia, é silenciosa em todos os sentidos, inclusive na gestualidade. A elevação do Pão e do Vinho consagrados são considerados somente para o gesto ofertorial, no “Per ipsum” como orientado pela rubrica 100 do Missal Romano.


Genuflexão 
A genuflexão é um gesto presidencial, feito depois da consagração do pão e do vinho. Já dediquei uma reflexão sobre este gesto tratando da “homenagem ao Sacramento”. Na prática consta de um gesto de adoração diante do Senhor sacramentado, verdadeiramente presente no Pão e no Vinho Eucaristizados, consagrados, pela presença e pela ação do Espírito Santo.


Inclinar-se
            A inclinação tem dois aspectos. O primeiro deles é contextualizado no mesmo sentido e significado da genuflexão. Isto é visível nas concelebrações: depois da consagração do Pão e do Vinho, quem preside a Oração Eucarística faz genuflexão e os demais concelebrantes fazem inclinação profunda, aquela inclinação feita com o corpo e não somente com a cabeça.
            O segundo aspecto encontra-se no gesto de inclinar-se prescrito na Oração Eucarística I, mas não nas demais Orações Eucarísticas. A inclinação acontece no “supplices te rogamus” — “nós vos suplicamos” —. A rubrica 96 instrui o presidente a unir as mãos e inclinar-se para suplicar que a oferta da Igreja — o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo — seja levada até a presença de Deus Pai. Uma inclinação orante, podemos dizer.


Sinal da Cruz sobre si mesmo
            Nesta mesma parte da Oração Eucarística I, no “supplices te rogamus”, quem preside a Oração Eucarística conclui este momento, erguendo-se da inclinação traçando o Sinal da Cruz sobre si mesmo dizendo “sejamos repletos de todas as graças e bênçãos do céu”. Um gesto que foi mantido pela reforma da Liturgia (1963) com o sentido de que a participação na Eucaristia, comungando a Eucaristia, como diz o texto, é fonte da bênção e da graça da Salvação.


Bater no peito
            Outro gesto da Oração Eucarística I, contemplado na rubrica 98, é o gesto de bater-se no peito. Acontece no momento do “nobis quoque peccatoribus” — “e a todos nós pecadores” —. É um gesto de humildade e de reconhecimento de ser pecador diante de Deus e diante de todos os celebrantes.


Gesto ofertorial  
Outro gesto da Oração Eucarística, este na conclusão da mesma, é o gesto ofertorial, quando o padre toma o Pão e o Vinho consagrados — Corpo e Sangue do Senhor — e, como orienta a rubrica 100 (elevans) eleva, ergue e oferta os dons da Igreja ao Pai. É a oferta do sacrifício da Igreja. É a Igreja ofertando ao Pai o próprio Corpo e Sangue de Jesus Cristo, ao que a assembléia participa com o grande e solene amém. 
O rito que comumente se chama de “ofertório”, na Liturgia, é designado como “preparação e apresentação das oferendas”. Ora, isso ajuda-nos a compreender que o verdadeiro ofertório da Missa acontece na conclusão da Oração Eucarística, quando, então sim, a oferta da Igreja, isto é, o próprio Jesus Cristo é oferecido ao Pai, dizendo “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a vós Deus Pai todo-poderoso, na unidade do Espírito Santo, toda honra e toda glória, agora e para sempre. Amém”
Sergio Valle
2017



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