5 de abr. de 2017

Oração Eucarística 4 - O silêncio

A proposta de reflexão, como em outros artigos, ilumina-se no contexto processual da comunicação litúrgica, no momento da Oração Eucarística. Neste contexto comunicativo da Oração Eucarística, o silêncio é elemento fundante (que dá fundamento) sobre o qual acontece a Oração Eucarística. Considero isso com dois elementos: um teológico e outro comunicativo. 

Silêncio na Teologia Litúrgica
Do ponto de vista da Teologia Litúrgica todo momento e todo espaço silencioso, no decorrer da celebração litúrgica, é momento e manifestação do Espírito Santo. O rito da imposição das mãos, na Ordenação Sacerdotal, por exemplo, é realizado no mais completo silêncio. O mesmo silêncio é prescrito na invocação do Espírito Santo em todos os sacramentos. O mesmo princípio, com efeito, é válido para a Oração Eucarística. O Espírito Santo é silencioso, como caracterizado em um de seus símbolos: o sopro divino. O mesmo sopro, que não se ouve, mas que silenciosamente nos toca e o sentimos, como descrito no Evangelho proclamado no dia de Pentecostes, quando Jesus entra no cenáculo e sopra para, silenciosamente, colocar o seu Espírito Divino na vida dos Apóstolos (Jo 20,19-23).
Neste sentido, entende-se que Oração Eucarística é, basicamente, um momento epiclético. Este termo teológico-litúrgico tem a ver com “epiclesis”, palavra de origem grega que significa invocação. No conjunto da Oração Eucarística, a Igreja invoca o Espírito Santo para consagrar e transformar os dons do pão e do vinho em Corpo e Sangue do Senhor. Isto significa que não existe Consagração Eucarística sem a invocação e sem a ação do Espírito Santo. Mas, este não é um momento isolado; tal invocação acontece no conjunto de toda a Oração Eucarística. Toda Oração Eucarística, em resumo, é epiclética; é uma grande invocação ao Pai para que envie o Espírito Santo e consagre os dons da Igreja. 
E mais. Existe uma segunda epiclesis, depois da Consagração, invocando a unidade da Igreja e de todos os cristãos, pois a unidade da Igreja de Jesus Cristo é obra do Espírito divino, que a Igreja assim reconhece e por isso o invoca. 

Elemento comunicativo  
O outro elemento desta reflexão  é o processo comunicativo. Ora, em decorrência do que se disse do ponto de vista teológico, deduz-se que a proclamação da Oração Eucarística aconteça em silencio, ou seja, a Palavra da Igreja, que é também Palavra de Jesus Cristo, pronunciada no silencio da assembléia como momento de ação de graças - Eucaristia - e invocação ao Espírito Santo no mais completo silêncio. 
Recordo-me do questionamento de alguns liturgistas quando, no Brasil, se começou a introduzir as aclamações durante a Oração Eucarística. Não poucos consideravam as aclamações uma espécie de intromissão no silencio da Oração Eucarística. Os defensores, argumentando a necessidade de dinamizar a Oração Eucarística com aclamações, em vista de maior participação, venceram. Estamos diante da dificuldade de entender o silenciar e os silêncios celebrativos como modo de participar ativamente da celebração.
Mas, não considero este um caso muito grave. A intromissão de músicos que ficam dedilhando fundos musicais, isto sim é uma intromissão indevida que deveria ser retirada, onde é feita. Durante a Oração Eucarística predomina o silêncio. Especialmente, como força de expressão reforçativa, o silêncio deverá ser total na Consagração das oferendas. Simplesmente, qualquer fundo musical, qualquer tipo de oração ou de homenagem ao Sacramento, como acenado em outro artigo, torna-se  e é indevida, vista como intromissão no silêncio que é sacramento do Espírito Santo. Ou seja, não se trata de orientação ou rubrica, mas de realidade celebrativa.
Oração Eucarística é momento para silenciar, não por alguma imposição rubrical, mas porque o momento é tão divino e tão sagrado que tudo precisa calar-se, seja na assembléia como no coração de cada celebrante. 
Serginho Valle 
2017 


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