1 de fev. de 2017

Eucologia na preparação e apresentação das oferendas

O rito da preparação e apresentação das oferendas é permeado de orações. Todo o rito acontece dentro de um contexto orante, o que significa não se tratar apenas de um rito prático, mas de um rito que se caracteriza como orante. Toda a preparação e apresentação das oferendas é um rito orante, da Igreja que reza diante de Deus para que aceite as oferendas a ele apresentadas para serem consagradas. O rito é concluído com o pedido que toda a comunidade como que “reforce” as preces, no “orate fratres”: “orai, irmãos e irmãs, para que nosso sacrifício seja aceito por Deus Pai todo-poderoso”.
Do ponto de vista estrutural, o rito da apresentação das oferendas é realizado com duas orações principais, quais duas pilastras que sustentam e dão sentido ao rito. As duas orações são idênticas, seja na estrutura literária  como na estrutura ritual. São dois "benditos" que agradecem os dons do pão e do vinho, ao mesmo tempo que intercedem a graça de se tornarem alimento e bebida da Salvação.
Do ponto de vista ritual são benditos e, enquanto tal, trata-se de uma benção ascendente, que vai da Igreja para Deus. Não uma benção de graças derramadas sobre quem as recebe, mas uma "ação de graças" dirigidas a Deus pelos dons recebidos da terra e frutos do trabalho humano.  

Bendito do pão e do vinho  
“Bendito sejais, Senhor, Deus do universo, pelo pão (vinho) que recebemos de vossa bondade, fruto da terra ( da videira) e do trabalho humano, que agora vos apresentamos e para nós se vai tornar pão da vida (vinho da salvação)”.

Os dois benditos partem do principio teológico e professa a fé em Deus criador de tudo: criador da terra que fornece o alimento humano. Neste sentido, Deus é o primeiro oferente. Na terra que produz o alimento, Deus se apresenta como oferente da vida para que o homem e mulher possam viver. Um bendito que também se fundamenta no conceito que a terra é dom divino para que toda espécie de vida possa viver. No conceito Teológico de Deus criador, toda a vida existente na terra encontra-se presente nas oferendas da Igreja. A oração faz referência a Deus oferente quando diz que tudo recebemos da bondade divina. 
O segundo elemento da oração é o trabalho humano. O pão e o vinho não nascem do acaso, são frutos do trabalho realizado pelo homem e pela mulher. É o conceito teológico da colaboração humana no cultivo e no cuidado da terra, proposta feita no livro do Genesis. Outro elemento presente no “bendito” é o conceito da dignidade do trabalho, meio pelo qual o homem torna-se humanamente digno de apresentar suas oferendas diante de Deus pois realiza o mandato do Deus criador para cuidar e cultivar a terra, para viver alimentando-se do trabalho das próprias mãos (Gn 3,19; Sl 128,2). Assim, o que é apresentado ao Pai para ser consagrado, nos símbolos do pão e do vinho, contém a dignidade do trabalho humano enquanto obediência no cultivo da terra para que todos possam dela se alimentar. Entende-se que o desemprego coloca o ser humano em condição indigna e, de outro lado, a preguiça é um pecado pela negativa de participar do cultivo da terra em solidariedade a todos. 
O resultado da apresentação dos dons — em nenhum momento fala de oferecimento ou de ofertório — é a transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Jesus Cristo. O termo "que vos apresentamos" indica a atitude da Igreja de não oferecer ou ofertar pão e vinho, mas de apenas apresentar. Colocam os seus dons diante do Pai para que ele os consagre. A oferta da Igreja não é o pão de o vinho, mas aquilo no qual o pão e o vinho serão transformados. A oferta da Igreja ao Pai é o Corpo e o Sangue de Jesus; a vida de Jesus. Sobre isso trataremos mais detalhadamente em outra ocasião. 

Oração na preparação do vinho  
Uma pequena oração suplicante, pela qual — de modo insistente — a Igreja intercede a participação da humanidade no dom do vinho que está sendo apresentado ao Pai.  O desejo da Igreja, diz a oração, é a participação dos celebrantes na divindade de Jesus. É uma intercessão pelo dom da santidade divina na vida pessoal. Esta intercessão tem a resposta positiva no momento da comunhão Eucarística, quando a vida divina é comungada pela vida humana. 
É uma prece bem simples, recitada em silêncio pelo padre (uma secreta), que se inspira na Teologia do "divinum commercium", Teologia dos Padres da Igreja que contempla a encarnação de Jesus, assumindo a humanidade, para que pudéssemos receber e participar da divindade. O “commercium” (a troca): nós oferecemos a humanidade para a encarnação e recebemos de Deus a sua divindade.

Secreta na preparação e apresentação das oferendas
A secreta (oração que o presidente da celebração reza silenciosamente diante de Deus) é rezada depois da preparação e apresentação dos dons. 
Uma das finalidades desta secreta, além de colocar o sacerdote em clima de oração pessoal, é preparar o coração do padre para o grande momento de ação de graças (Oração Eucarística), que é sacrifical e, por ser sacrifical, é ofertorial. Não tanto por aquilo que diz a oração, mas para que o padre entre no silencio sagrado, condição necessária para apresentar a grande ação de graças da Igreja, na Oração Eucarística. 
Diz a oração secreta:  

“De coração contrito e humilde, sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso sacrifício de tal modo oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus.”

O primeiro elemento da oração consiste em apresentar-se diante se Deus com o coração humilde. Isto faz parte da escola de oração de toda a Bíblia, como encontrado e muitos salmos e orações rituais de apresentação das oferendas a Deus. A humildade, portanto, como condição para se apresentar diante de Deus com as oferendas. 
O segundo elemento presente na oração é a dimensão do exercício sacerdotal. A Bíblia e a Teologia do sacerdócio o definem como oferente, aquele que oferece um sacrifício diante de Deus. Isto está presente na Carta aos Hebreus, quando diz que Jesus, o Sumo Sacerdote do Novo Testamento, entrou uma vez para sempre no santuário para oferecer o seu sacrifício ao Pai (Hb 9,11-12). A oração secreta como que conduz o padre para dentro do santuário divino onde ele intercede a Deus em nome de todo o povo, para que as oferendas da Igreja, reunida naquela assembléia litúrgica, sejam acolhidas pelo Pai.
Por fim, um terceiro elemento, expresso no desejo que o sacrifício (o pão e o vinho), preparados e colocados pela Igreja diante de Deus seja agradável. A condição para ser agradável consiste na qualidade do pão e do vinho. Não na qualidade física, evidentemente, mas na qualidade que o torna santificado pelo modo como a comunidade vive o Evangelho e caminha nas estradas do discipulado.

Lavabo  
            O lavabo é um rito simples, pelo qual o padre lava suas mãos rezando a seguinte oração: “lavai-me, Senhor, de minhas faltas e purificai-me de meus pecados”.
            Como comentei em outra oportunidade, o lavabo transformou-se de gesto prático para rito purificador, conforme expresso na oração. Houve uma espiritualização do rito. Gesto prático porque, na antiguidade, até meados do século X, segundo alguns autores, as oferendas eram apresentadas ao padre e este as tocava com as mãos. Como a maior parte das oferendas eram em forma de alimento para serem distribuídos aos pobres, o padre sujava as mãos ao tocar nas oferendas e, por isso, antes de apresentar as oferendas precisava lavar as mãos. Entende-se que a colocação deste rito acontecia antes da preparação e apresentação das oferendas. Primeiro recebia-se as oferendas, depois eram apresentados os dons do pão e do vinho.
            No atual contexto celebrativo, a oração define a necessidade de “coração e de mãos limpas”, sinais da integridade sacerdotal para apresentar as oferendas a Deus em nome da Igreja.


Orate fratres  
“Orai, irmãos e irmãs,
para que nosso sacrifício seja aceito
por Deus Pai todo-poderoso”.

            Concluída a preparação e apresentação das oferendas, o padre convida os celebrantes a rezarem com ele para que o sacrifício que foi preparado e apresentado ao Pai seja aceito. É um rito que pede o reforço orante da assembléia para que Deus aceite o que foi preparado a apresentado diante dele, mas é também um modo de participar na apresentação das oferendas diante de Deus.
            A fórmula que reproduzimos acima é a mais simples e a mais comum. O Missal apresenta outras três fórmulas mais elaboradas. Isto deve servir de incentivo para que o padre faça o mesmo convite servindo-se do contexto celebrativo ou inspirando-se na Palavra proclamada na celebração. É bom lembrar que se trata de um convite, de onde a necessidade de ser objetivamente breve.


Coletas ofertoriais
            A conclusão dos ritos ofertoriais acontece com uma oração coleta, que suplica o acolhimento das oferendas da Igreja a Deus Pai. São orações com conteúdos fundamentados na Sagrada Escritura, ou na Teologia Eucarística e ou ainda na Teologia dos diferentes tempos litúrgicos da Igreja.
Serginho Valle
2017


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