30 de nov. de 2016

Oração dos fiéis

A oração dos fiéis é um rito orante que conclui a Liturgia da Palavra. Como em todo rito, no contexto celebrativo da Liturgia da Palavra, a Oração dos fiéis é presidida e pelo padre e proclamada por um ou vários intercessores. Repetindo, sendo processo normal da Liturgia da Palavra, a oração dos fiéis é prece, composta de várias intenções (pedidos) proclamada diante de Deus e diante da comunidade. Não é, portanto, recitada em conjunto.
O padre exerce seu ministério presidencial na Oração dos fiéis pela monição inicial, formulada em forma de convite. E, depois da proclamação das preces, ele a conclui com uma oração que, dada as circunstâncias, deveria ter a estrutura das orações coletas: invocação ao Pai ou ao Filho, memorial breve, súplica e conclusão doxológica simples. O diácono, quando presente, exerce seu ministério anunciando as intenções de cada prece que será proclamada. Mais uma vez, é importante entender que a Oração dos fiéis, por ser proclamativa não é recitada por toda a assembleia, mesmo que esta seja dividida em dois coros. É um dado importante, pois se corre o risco de transformar a Missa em recitação de formulas, com muita falação e pouco espaço para a oração, até mesmo quando o momento é orante. 
As intenções são proclamadas por um ou vários ministros intercessores, dependendo das circunstâncias contextuais de cada celebração. Ou ainda, dependendo da estrutura da prece. Isto acontece, por exemplo, em súplicas que se inspiram numa frase bíblica ou quando se anuncia a intenção antes da prece.  

Estrutura da oração dos fiéis 
A oração dos fiéis compõe-se de uma monição em forma de convite, feita pelo padre. Seguem-se as intenções, que normalmente são em número de cinco. Depois, a oração é concluída com a oração do padre, em forma de estrutura de coleta, como dito acima. 
Como toda monição, esta da oração dos fiéis, é feita de modo breve, inspirando-se na Palavra proclamada ou mesmo em algum pensamento da homilia que merece destaque especial em função de motivar o convite para a oração dos fiéis. 
As intenções também são breves e podem ser formuladas em forma de súplicas simples, como por exemplo: “rezemos pela Igreja e pelos nossos pastores”. Pode também ser formulada em forma de prece: “concedei, Senhor, paz a toda a Igreja e sabedoria aos nossos pastores”. Outra possibilidade é inspirar a intenção numa frase bíblica de cada uma das leituras ou, inspirar a prece numa necessidade particular, como por exemplo: “rezemos pelas pessoas que sofrem o drama da enchente”. 
A oração conclusiva é presidencial. Pessoalmente não considero litúrgico concluir o rito da oração dos fiéis com “orações temáticas”, como por exemplo, da Campanha da Fraternidade ou uma oração vocacional por ser o Domingo dedicado às vocações. Da mesma forma, uma vez que as preces são dirigidas ao Pai ou a Jesus Cristo, não tem sentido concluí-las com uma Ave Maria ou com alguma oração devocional dirigida a algum santo ou santa.  
A participação da assembléia acontece com um refrão, que tem o formato intercessor responsorial. Este pode ser recitado ou cantado. Existe ainda a possibilidade de um refrão diferente para cada prece. Mas, para este segundo modo se realizar é necessário que todos tenham acesso ao refrão.

Processo comunicativo 
O processo comunicativo no rito da oração dos fiéis é bem simples e já foi explanado no decorrer deste comentário. O convite é feito pelo padre, da cadeira presidencial, e as preces são proclamadas pelo intercessor ou intercessores do ambão
São proclamadas do ambão, e não de uma estante qualquer e nem mesmo do meio da assembléia, com pessoas “gritando” as preces para serem ouvidas. São proclamadas do ambão porque fazem parte da Liturgia da Palavra; além disso porque é a Palavra de cada Missa que motiva as intenções, no contexto existencial onde acontece a celebração. Em certo sentido, as preces dos fiéis é uma forma de resposta à Palavra de Deus, da parte de quem intercede a ajuda divina para poder corresponder com a vida à Palavra proclamada. Por isso, as preces podem estar sintonizadas com cada uma das leituras e com o salmo responsorial, mais uma ou duas preces pelas necessidades da comunidade. 
Ainda dentro do processo comunicativo, a título de lembrança, as preces podem ser cantadas. Hoje, existem várias melodias para esta finalidade. Trata-se de um modelo comunicativo que pode ser adotado em celebrações solenes e festivas da comunidade.  
Serginho Valle 
2016 


25 de nov. de 2016

Credo

"Credo in unum Deum"... canta solenemente a Profissão de Fé em Latim, depois do silêncio pós-homilia. Este silêncio que muito pouco se observa em nossas celebrações, diga-se de passagem, considerando que muitos padres concluem sua homilia convidando os celebrantes a recitarem a Profissão de Fé. Não existe uma orientação quanto ao procedimento do rito que conclui a homilia, mas se pode deduzir um movimento ritual razoável a partir do ponto de vista comunicativo. Este movimento ritual, ao meu ver, poderia ser exercido da seguinte forma: silêncio pós-homilia, breve monição para contextualizar a proclamação da Profissão de Fé (Creio) e proclamação da Profissão de Fé, recitada ou cantada.
            Minha proposta ritual contempla, portanto, uma monição motivacional diferente para cada Missa. Monição que se apoia na Palavra e na atualização da mesma, realizada na homilia. Assim, se o contexto da Liturgia da Palavra for sobre a misericórdia divina, a monição do Credo, o motivo pelo qual professamos a fé naquela celebração, iluminar-se-á no compromisso para se viver a fé de modo misericordioso. Isto evita o risco de deixar o Credo meio solto no meio da Liturgia da Palavra.
Gostaria de lembrar que minha proposta não é nova e nem invenção pessoal. Na História da Missa, o Credo era recitado logo após o Evangelho justamente para mostrar a adesão através da fé proclamada no Evangelho. Isso significa que o celebrante crê no Evangelho, isto é, assume como verdadeiro e faz adesão de fé à Palavra proclamada, com os artigos da fé propostos pela Igreja. Além disso, nas Missas Pontificais (presididas pelo Pontífice), especialmente nas viagens apostólicas, o bispo local motiva a Profissão de Fé a partir do Evangelho.

Anotações da História

O Credo (creio) foi introduzido nas Missas dominicais no ano de 810, por Carlo Magno, Rei da França, determinando que o mesmo fosse cantado solenemente depois do Evangelho. Uma determinação que vigorava mais nas celebrações da Liturgia Galicana, celebrada na França. Somente no século XI, o Imperador Henrique III convenceu o Papa Bento VIII a introduzir definitivamente o Credo na Liturgia Romana depois do Evangelho Mesmo cedendo ao pedido de Henrique III, Papa Bento VIII fez questão de ressaltar que “a Liturgia Romana não recitava o Credo por não ter sido contaminada pela heresia”. Mas, o Papa cede em vista da instrução dos fiéis em recordar semanalmente os princípios da fé cristã até decorá-los.
Muitos autores comentam, com base na resposta de Bento VIII, que uma das finalidades da introdução do Credo na Missa é nitidamente catequética. De fato, o Credo não é uma fórmula oracional, em senso estrito, mas um elenco dos pontos mais importantes da fé proclamada pela Igreja Católica. Acrescento que sua proclamação seja catequética também pela finalidade pedagógica de fazer com que os artigos de fé da Igreja sejam memorizados a ponto de tanto repetir todos os católicos os conheçam de memória.

Compromisso com a fé
Outra função do Credo é a renovação da fé, professada no Batismo, a qual compromete os batizados a viverem no discipulado de Jesus Cristo. Renovar no sentido de “tornar novo”. A renovação do conhecimento dos dogmas da fé, neste sentido, tem caráter de atualização do compromisso Batismal em cada celebração Eucarística. Cada Missa, portanto, renova os compromissos batismais, motivo pelo qual reitero a importância da monição (que é sempre breve) para sintonizar o compromisso batismal com o Evangelho proclamado naquela Missa.

Rito do Credo
A Liturgia Eucarística propõe dois modos de realizar este rito: recitado ou cantado. Existe uma terceira forma, usada em algumas Missas, cujo contexto podem ser descritos como especiais, como celebrado nas Missas Rituais, seja do Batismo, da Crisma, do Matrimônio, da Unção dos Enfermos. O mesmo pode acontecer nas Missas de 1ª Comunhão. Neste caso, a terceira fórmula de realizar o rito do Credo é dialogado, feito de perguntas pelo padre e a afirmação em forma de "creio" confirmada pelos celebrantes.
Não é permitida pela legislação litúrgica o uso de formas abreviadas do Credo, contendo somente três ou quatro artigos de fé. Muito menos são permitidas formas estranhas à formula canônica do Credo dos Apóstolos ou aquele Nicenoconstantinopolitano.
Serginho Valle
2016  


Diálogo horizontal na comunicação litúrgica

“Sendo a celebração da Missa, por sua natureza, de índole “comunitária”, assumem grande importância os diálogos entre o sacerdote e os fiéis reunidos, bem como as aclamações, pois não constituem apenas sinais externos da celebração comum, mas promovem e realizam a comunhão entre o sacerdote e o povo” (IGMR 34)

O presente texto da IGMR 34 encontra-se no capitulo II,o qual chama atenção para os diferentes elementos da Missa. No presente artigo, trata-se de um elemento de caráter comunicativo, pelo qual acontece uma participação ativa e efetiva no processo da comunicação Litúrgica.

Do ponto de vista comunicativo, estamos com um modelo de comunicação horizontal, pelo qual, o Presidente da celebração é motivado a dialogar com os celebrantes em vista da promoção de uma comunhão “entre o sacerdote e o povo”. Uma evidência clara que a Igreja não entende a celebração (em todos os Sacramentos) como monólogo, mas como diálogo. Não somente este diálogo horizontal, que é contemplado neste IGMR 34, como também o diálogo vertical, aquele que se realiza entre Deus e os celebrantes. Quanto a isso, a SC 33 faz referência ao diálogo que acontece na Liturgia da Palavra entre Deus que anuncia sua Palavra e os celebrantes que respondem com o acolhimento silencioso e com aclamações, como é o caso do salmo responsorial, a aclamação ao Evangelho e as preces dos fiéis.

O diálogo horizontal, com o qual nos ocupamos neste breve texto, também contém elementos do diálogo vertical, como por exemplo, na estrutura comunicativa prefacial, que abre a Oração Eucarística e se conclui com o convite para se dar graças ao Senhor e nosso Deus, tendo no solene canto do “Sanctus” o seu momento alto, mas em estrutura de comunicação vertical, quer dizer, dos celebrantes para com Deus.

Um diálogo que acontece em forma de oração suplicante é aquele do rito penitencial, com uma interação daquele que preside e apresenta as orações ao Pai, em nome da assembléia, e dos celebrantes que como que endossam a súplica do perdão.

Muitos outros aspectos desse elemento da comunicação litúrgica de diálogo horizontal poderiam ser considerados, mas não é o caso, uma vez que o presente texto trata apenas de uma breve consideração sobre a IGMR 34. Por isso, concluo lembrando que a celebração da Missa é basicamente fundamentada no processo comunicativo dialógico. Até mesmo na Oração Eucarística, quando o padre proclama a anáfora sozinho, ele está em diálogo com Deus, apoiado pelo silêncio ORANTE da assembléia, que confirma o louvor da Igreja, com o mais solene de todos os “améns” da Missa, no final do “por Cristo, com Cristo e em Cristo”.

Descuidar-se do processo comunicativo dialógico na celebração litúrgica pode-se correr o risco de impedir a participação e prejudicar o caráter comunitário da celebração, como destacado na IGMR 34.

Serginho Valle

18 de nov. de 2016

IGMR 295 – o tamanho do presbitério

O presbitério é o lugar, onde se encontra localizado o altar, é proclamada a Palavra de Deus, e o sacerdote, o diácono e os demais ministros exercem o seu ministério. Convém que se distinga do todo da igreja por alguma elevação, ou por especial estrutura e ornato. Seja bastante amplo para que a celebração da Eucaristia se desenrole comodamente e possa ser vista por todos.

Do ponto de vista da comunicação litúrgica, o olhar com o qual estamos lendo alguns parágrafos da Instrução Geral do Missal Romano, este IGMR 295 é a descrição de onde parte o diálogo comunicativo da celebração litúrgica. Embora a comunicação litúrgica seja dialógica, o ponto emissor (podemos falar assim) encontra-se no presbitério, de se comunica a Palavra de Deus (ambão), onde se prepara, oferece, consagra e se partilha o Sacrifício Eucarístico, de onde os ministros exercem seu serviço a Deus e aos celebrantes.
Inicialmente, a IGMR 295 trata da estrutura do espaço e conclui orientando para que seja espaçoso, condição indispensável para a celebração desenvolver-se de modo satisfatório. De fato, espaços apertados, restringem, quando não impedem o processo comunicativo da celebração. Não se pode dizer que existe uma procissão, mesmo em caráter ritual, dando dois passos porque o ambão e o altar estão quase grudados. Por isso, vale a pena considerar esta IGMR 295 não apenas como conclusiva da primeira parte dos parágrafos que trataram do espaço celebrativo, mas como diretiva quanto ao espaço adequado para comunicar-se liturgicamente no espaço celebrativo do presbitério. 
Esta amplidão do presbitério é  útil quando se pensa na introdução de sinais e símbolos em momentos de celebrações especiais, como na festa do padroeira, por exemplo. Quando se pensa na realização de ritos que exigem movimentos ou alguma coreografia e, até mesmo, quando da necessidade de se criar espaços simbólicos maiores, como é o caso de um presépio, no Tempo de Natal por exemplo. 
O presbitério, portanto, não é um local para encher com folhagens e flores como se fosse um quintal. Quanto a isso, oriento-me com uma indicação do saudoso Cláudio Pastro. Dizia ele que o espaço do presbitério é bonito por si mesmo, sem a necessidade de colocar folhagens, flores e imagens para enfeita-lo.

Serginho Valle
2016


16 de nov. de 2016

Homilia - rito litúrgico

A primeira coisa a se considerar com respeito à homilia, dentro do processo celebrativo litúrgico, da Missa e dos demais sacramentos, é a sua ritualidadeA homilia não entra nos parâmetros de palestra ou pregação que, do ponto de vista comunicativo, comportam a característica de refletir ou tratar de um tema mais longamente. A homilia é um rito celebrativo Litúrgico e, enquanto tal, prima pela brevidade, pela simplicidade e pela objetividade. Tais são as características dos ritos litúrgicos, no processo comunicativo da celebração litúrgica. Assim, homilias longas, como se fossem pregações ou palestras, tornam-se ruídos na comunicação litúrgica, no decorrer de uma celebração. 

Brevidade da homilia  
O tempo ideal de uma homilia dominical é entre 8 e 10 minutos. É um tempo considerado suficiente para o homiliasta transmitir sua mensagem e para que a mesma seja assimilada com atenção pelos celebrantes. Mais que isso, o contexto espacial da igreja, o contexto religioso da celebração e a capacidade de atenção da maior parte de nossos celebrantes é perdida.  
Toda celebração que estende demasiadamente um rito, principalmente a homilia, torna-se cansativa e o grau de atenção, da parte dos celebrantes se perde. Por isso, homilias breves, atraentes e praticas, isto é, voltadas para a prática da vida cristã compõem as características de homilias bem feitas.

Simplicidade na homilia 
Homilia não é pregação e muito menos palestra ou aula de algum tratado teológico. A palavra “homilia”, de origem grega, significa “conversa familiar”. No contexto do processo comunicativo, não se trata tanto de estabelecer um diálogo entre homiliasta e assembléia, com perguntas que nem sempre são bem respondidas e, por isso não chegam a lugar algum e não se concluem com uma mensagem clara. A conversa familiar, no caso da comunicação litúrgica, tem a ver com a simplicidade da linguagem. Uma comunicação com uma linguagem simples, compreensível a todos e feita para todos, do mais letrado ao analfabeto. Trata-se, em resumo, de uma linguagem que se caracteriza pela simplicidade na sua compreensão. 
Do ponto de vista da Psicologia da Comunicação, o tom de conversa familiar, na homilia, oferece a mais importante oportunidade para que o ouvinte possa acolher a mensagem. Homilia feita em tom de voz muito alto, aos gritos, torna-se agressiva e, por isso, corre sério risco de rejeição. Homilia falada em voz baixa, que exige esforço para entender o que se fala, é cansativa, monótona e corre o mesmo risco de rejeição, por melhor que seja o conteúdo. Simplicidade, portanto, também no modo familiar de se expressar; com o tom de voz familiar.
Mas simplicidade também no conteúdo. O homiliasta não está na função de professor, mesmo que o seja. Está sim, na função de hermeneuta, quer dizer, na função de interprete da realidade à luz da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, como interprete da Palavra à luz da realidade dos celebrantes. Por isso, a homilia é uma arte comunicativa que exige dois fundamentos hermenêuticos: o conhecimento da Palavra e o conhecimento da realidade. Não somente aquele conhecimento teórico e livresco, mas o conhecimento da experiência de vida. Só pode fazer uma boa homilia quem vive a Palavra e faz experiência de ir ao povo e de estar com o povo; quem conhece a Palavra e conhece a vida do povo. É com tais elementos que a homilia torna-se simples, acessível e proposta de vida exequível. 

Objetividade 
O terceiro elemento da comunicação litúrgica, presente no rito da homilia, é a objetividade. Ser objetivo é o grande dogma do processo comunicativo atual. A mídia se serve continuamente da objetividade para noticiar, fazer marketing, publicidade. As redes sociais são extremamente objetivas em seus textos. Ora, se estamos envolvidos num modo objetivo de nos comunicar, entende-se que se a homilia for abstrata e exigir muita concentração para acompanhar o pensamento do homiliasta, podemos prever o resultado no receptor: rejeição pela indiferença ou pela incapacidade de acompanhar pensamentos abstratos.
Objetividade num processo comunicativo é um termo muito amplo. No caso da homilia, a objetividade diz respeito a uma proposta de vida concreta através do discipulado. Por isso, o homiliasta deve ser objetivo no sentido de propor como viver concretamente o discipulado na sua realidade atual, a partir da Palavra de cada celebração. Em termos de linguagem publicitária, isto significa propor uma solução para uma necessidade que a pessoa vive. No caso da homilia a necessidade de se viver plenamente de acordo com o projeto divino. Neste caso, a homilia não busca um âncora, um garoto propaganda, para dizer que o produto é bom. A homilia pede o exemplo de vida do homiliasta que garanta a verdade de sua mensagem. Ele falar aquilo e daquilo que vive.
Tem ainda a objetividade preparatória. Neste caso, gosto de explicar isso com uma formula que passava aos meus alunos de Teologia Litúrgica: sempre uma, no máximo duas, nunca três. É uma regrinha da objetividade da homilia. Traduzindo: uma única mensagem, no máximo duas, mas nunca três ou acima de três. Assim, não é objetivo o homiliasta que explica leitura por leitura, por exemplo. Ele é prolixo, fala de muitas coisas e não conclui nada. Conhecendo a estrutura da Liturgia da Palavra, como já propomos aqui no blogger, a objetividade do homiliasta será vista ao optar por uma única mensagem capaz de iluminar o contexto existencial dos celebrantes a partir da Palavra que é celebrada.
Meus alunos costumavam questionar o fato de haverem vários pontos pertinentes e relevantes em algumas Missas Dominicais. Verdade. Mas aqui estamos diante do que denomino de pedagogia litúrgica. O homiliasta nunca prepara uma homilia isoladamente, mas conhecendo as leituras do Domingo anterior e aqueles dos próximos Domingos, ele saberá conduzir os celebrantes na estrada do discipulado dando um passo de cada vez. E para isso conta com a objetividade. É como tomar vitamina para se fortalecer. Se tomar todas as vitaminas de uma única vez, o efeito poderá ser negativo. Precisa tomar a vitamina na dose certa para se chegar ao efeito desejado. Por isso, objetivamente, uma mensagem por vez para se ter o efeito de conversão progressiva até ingressar definitivamente no caminho do discipulado. É assim que a homilia acolhe o envio de Jesus para fazer discípulos e discípulas. É o modo Litúrgico de evangelizar. 

Conclusão 
Três elementos para concluir.
Primeiro: “a boca fala daquilo que o coração está cheio”, ensina Jesus (Mt 12,34). Se o coração estiver cheio da Palavra de Deus, se for um coração modelado no discipulado, então facilmente se deduz que a atualização da Palavra e, mais especificamente, do Evangelho, contará com propostas concretas da Palavra e do Evangelho para a vida. Mas, se o coração estiver vazio da Palavra e não for um coração modelado no discipulado, então a homilia será vazia, superficial, enrolada e longa.
Segundo: escrever o texto no início da semana e reler no decorrer da semana facilita a compreensão e objetividade do que se falará no momento da homilia. É uma técnica que favorece a objetividade, a simplicidade e a brevidade da homilia. Ter o texto escrito, lido e revisado no decorrer da semana é de grande importância para uma boa homilia. Ter somente os pontos elencados pode ser perigoso, pois muitas ideias poderão surgir no momento da homilia e impedir os três princípios básicos do rito da homilia: brevidade, simplicidade e objetividade. Em outras palavras, a homilia é preparada antes, não na hora da Missa.
Terceiro: rezar e praticar na semana aquilo que será proposto na homilia santifica o homiliasta e o torna convicto do que propõe na sua homilia. Se, por exemplo, o padre falará sobre a paciência, no decorrer da semana procurará exercitar-se na virtude da paciência. Sua oração diária será mais paciente diante de Deus e saberá reconhecer suas faltas com relação à paciência. Suas meditações e a sua lectio divina versarão sobre a paciência. E assim por diante. Isto por um motivo muito simples. Se a homilia é uma proposta prática de como viver o discipulado e ser cristão, nada mais justo que o homiliasta experimente viver antes aquilo que está propondo aos celebrantes. Uma boa parte de homilias sem vida, mornas, e entediantes assim o são por não serem experenciadas antecipadamente na vida de alguns homiliastas
Serginho Valle 
2016 


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