24 de jun. de 2016

Importância do canto na Missa – IGMR 41

Em igualdade de condições, o canto gregoriano ocupa o primeiro lugar, como próprio da Liturgia romana. Outros gêneros de música sacra, especialmente a polifonia, não são absolutamente excluídos, contanto que se harmonizem com o espírito da ação litúrgica e favoreçam a participação de todos os fiéis. 
Uma vez que se realizam sempre mais frequentemente reuniões internacionais de fiéis, convém que aprendam a cantar juntos em latim ao menos algumas partes do Ordinário da Missa, principalmente o símbolo da fé e a oração do Senhor, empregando-se melodias mais simples.

            A reforma litúrgica realizada pelo Concílio Vaticano II (1963) não excluiu a primazia do canto gregoriano para a Liturgia romana. Considera-se nisso a poesia do canto gregoriano, fortemente fundamentada na Sagrada Escritura, e a sua linha melódica, qual uma pedagogia orante que murmura preces em forma de música. Do ponto de vista comunicativo, o canto gregoriano, graças a sua linha melódica, calma e declamativa, favorece a oração pessoal e torna a celebração mais serena. Outra característica do canto gregoriano, ainda do ponto de vista comunicativo, é prioridade da voz humana sobre os instrumentos. No canto gregoriano é a voz humana que se eleva a Deus e os instrumentos musicais aparecem apenas como um sussurro, um suporte do tom melódico da canção.
            Mesmo priorizando o canto gregoriano, a Igreja não exclui outros gêneros musicais, desde que sejam considerados dignos da ação litúrgica. Para isto devem estar dentro do espírito litúrgico, que não é de exibição de músicas, mas da música como rito celebrativo e celebrante. Sobre a questão do “espírito litúrgico”, a IGMR 41 propõe o critério do favorecimento da participação dos fiéis. Mas, podemos acrescentar outros, como por exemplo, o favorecimento da oração, a música como meio de louvor e de adoração, a música como rito suplicante do perdão e de ação de graças. Com isso, algumas canções com critérios diferentes destes, como mensagens de auto-ajuda ou algo parecido, não se adéquam ao espírito da celebração litúrgica.
Dentre os gêneros musicais a serem preservados na Liturgia a IGMR 41 cita também o canto polifônico, presente na Liturgia latina durante muitos séculos, com a presença de grandes corais. Mesmo assim, neste particular, a Missa não é um momento para ouvir corais cantando, de onde a necessidade de encontrar meios com os quais os celebrantes possam participar de canções cantadas em Missas com a presença de corais.
            Por fim, o último parágrafo orienta em vista de uma participação mais completa, digamos assim, em celebrações com caráter internacional, tendo na língua latina um fator de unidade em alguns ritos celebrativos. Tem sua razão de ser, pois o latim continua sendo a língua oficial da Liturgia Romana, inclusive para as traduções de textos litúrgicos.
Serginho Valle

2016

22 de jun. de 2016

Monição na Missa

Logo após a saudação inicial, com a qual o padre acolhe os celebrantes, dirige-se à assembléia através da "monição". Palavra de origem latina, "monitio", tem o sentido de advertência, de chamada de atenção, de convite para um determinado ponto de atenção ou um foco. Em termos atuais, pode-se dizer que a monição tem a finalidade de ajudar os celebrantes a focarem-se num aspecto da celebração.
O termo "monitio" — monição — nos ritos iniciais tem, portanto, a finalidade de preparar os celebrantes para entrarem na celebração iluminados por uma luz especial, que vem da Palavra. No início da Missa, a preparação é feita chamando atenção para uma luz ou para um enfoque especial daquela Missa. Entende-se que as muitas propostas temáticas vindas da Palavra e da vida da comunidade não podem ser tratadas numa única celebração. De onde a necessidade de focar em um ou, no máximo, dois aspectos. A monição é o momento para apresentar à assembléia o contexto celebrativo na qual está sendo proposta celebrar aquela Eucaristia.
Do ponto de vista comunicativo, a monição caracteriza-se pela brevidade. Em poucas palavras, o padre apresenta o contexto celebrativo e, logo em seguida, passa ao ato penitencial. Como se percebe, não se trata de um mini-sermão, com muitas explicações e comentários sobre a celebração. A monição é breve.
Ao lado da brevidade, qual fiel companheira, está a objetividade. Breve e objetiva são as características da monição. Nada se enrolação, de prolixidade, mas objetivamente propor o que precisa ser proposto e passar para o rito seguinte. Sempre do ponto de vista comunicativo, é antipático iniciar a celebração com muito falatório, uma lista infindável de intenções, com ares de interminável. Isto é cansativo para que ouve.
Aliás, o momento da monição não é para explicar as leituras, não serve para perguntar quem faz aniversário e quantas pessoas de outras comunidades estão na Missa e outras coisas mais. Isto pode ser feito antes da Missa, num momento que se chama ambientação. O muito falar e o falar de muitas coisas no início da celebração são ruídos que desconcentram do foco, tira o silêncio interior dos celebrantes e cria um clima de cansaço logo no início da celebração; e isso não é bom. O início da celebração deve ser calmo, breve e acolhedor. Por isso, não é aconselhável palmas, cantigas de boas vindas e coisas do gênero como parte da monição. Uma boa monição se caracteriza, repetindo, pela brevidade e objetividade. Isto passa aos celebrantes que a celebração irá fluir e não será ruidosa. Neste caso, pode-se aplicar o provérbio: “a primeira impressão é a que fica”.
Serginho Valle

2016

10 de jun. de 2016

Importância do canto na Missa – IGMR 39

O Apóstolo aconselha os fiéis, que se reúnem em assembléia para aguardar a vinda do Senhor, a cantarem juntos salmos, hinos e cânticos espirituais (cf. Cl 3, 16), pois o canto constitui um sinal de alegria do coração (cf. At 2, 46). Por isso, dizia com razão Santo Agostinho: “Cantar é próprio de quem ama”, e há um provérbio antigo que afirma: “Quem canta bem, reza duas vezes”.


A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) dedica três parágrafos para falar da importância do canto na Missa, a partir do n. 39. Do ponto de vista comunicacional, que é a luz com a qual estamos lendo a IGMR neste espaço, o canto ocupa um lugar de destaque, fundamentado biblicamente, nas citações referidas no texto. Existem muitas outras referências bíblicas sobre a importância na música na Liturgia, mas nos deteremos nas referências da IGMR 39.

A primeira coisa que chama atenção é o fato que a música constitui um elemento importante na comunicação celebrativa da Missa, como também na celebração de outros sacramentos. Mas, não se trata de qualquer música. A proposta é cantar canções que se caracterizem pela esperança vigilante, aguardando a vinda do Senhor, em espírito de alegria, na referência dos Atos dos Apóstolos. Não mensagens de auto-ajuda, podemos dizer, mas poesias que nos deixam atentos para o clamor litúrgico que sempre intercede: “vinde, Senhor Jesus!”

Quanto ao conteúdo poético das canções, estes são descritos em três categorias: salmos, hinos e cânticos espirituais. A Igreja sempre propôs, em seu hinário, salmos para as partes móveis da Missa: salmo introdutório ou salmo invitatório, para acompanhar a procissão de entrada; salmo ofertorial, para a procissão das oferendas e, salmo de ação de graças para a procissão da comunhão. O Missal faz referência a isso propondo somente as antífonas, pois os salmos encontram-se em outro livro, chamado Gradual.

Os hinos, que Paulo faz referência escrevendo aos Colossenses, também são de inspiração bíblica e cantam em suas poesias o Mistério Pascal de Cristo e as obras da Salvação divina. A música litúrgica, em sua hinografia, não se caracteriza como música com poemas de mensagem, mas como poesia memorial, isto é, que faz memória dos acontecimentos divinos em favor da Salvação do povo. Juntamente com os hinos, estão os cânticos espirituais, que se caracterizam como canções de louvor, de adoração e de súplica a Deus. Considerando deste ponto de vista, a música litúrgica se distingue como canções dirigidas a Deus, no contexto celebrativo de cada celebração e de cada tempo litúrgico.

Por fim, a iGMR 39 faz referência a dois elementos da comunicação musical: a expressão de amor e a “oração duplicada”, se assim podemos dizer. É pela canção que expressamos nosso amor a alguém, como facilmente se percebe no cancioneiro popular. É pelas canções que, igualmente, demonstramos nosso amor a Deus. Quanto a “oração duplicada”, por sua vez, esta reforça a característica orante que a música litúrgica tem em. Não é uma música para catequizar e nem mesmo propor uma teologia, por exemplo (pior quando se pretende passar uma ideologia), mas é uma música para se rezar na assembléia celebrativa, cantando orações, súplicas, louvores, adoração e glorificações a Deus.

Serginho Valle

8 de jun. de 2016

A música litúrgica nos ritos iniciais da Missa

Os ritos iniciais compreendem desde a procissão de ingresso até a coleta (oração do dia). São ritos caracterizados pela simplicidade e pela brevidade, com a finalidade de introduzir os celebrantes no contexto celebrativo próprio de cada celebração, através do acolhimento, da purificação interior, do louvor e da súplica. Isto diz respeito particularmente os ritos inicias das Missas Dominicais.
            Quanto ao espaço musical, a tradição litúrgica reserva três canções para os ritos iniciais: a canção que acompanha a procissão de ingresso, o canto laudativo do Kyrie eleison e o canto da glorificação inicial, com a doxologia do “Gloria in excelsis”. Isto é bem visualizado nas celebrações pontifícias, especialmente aquelas celebradas no Vaticano e nas celebrações solenes de algumas catedrais e abadias. Algumas comunidades paroquiais também criaram o costume de realizar uma Missa solene aos Domingos, que conserva tal estrutura.

Canto inicial ou de abertura
            O canto inicial tem a finalidade de acompanhar a procissão dos ministros. Não é um canto de acolhimento dos ministros, como teimosamente muitos insistem em seus convites de “ficar de pé para, cantando, acolher o padre e seus ministros”. Sobre isto, convido para ler o meu artigo “Acolhamos o celebrante”, publicado aqui, neste blogue.
O canto inicial é uma canção introdutória da celebração, escolhida a partir da antífona de entrada ou da Palavra do dia, ou ainda, da memória festiva ou solene da celebração.  Desta canção participam todos os celebrantes presentes na igreja, juntamente com os ministros. Ambos representam a Igreja caminhando em procissão ao encontro do Senhor Jesus, presente no altar. Neste sentido, uma das características do canto inicial é o de ser uma canção processional. Do ponto de vista comunicativo, o bom senso pede que seja uma canção pouco ritmada e calma, para não prejudicar a serenidade própria dos ritos iniciais e não cansar os celebrantes antes mesmo da celebração iniciar.

Kyrie eleison
            Quanto ao Kyrie, trata-se de uma canção laudativa com caráter proclamativo. Serve para louvar e proclamar o Senhorio (Kyrie) e a unção divina de Jesus pelo Espírito. Proclama-se que Jesus é o Kiryos (o Senhor) e o ungido (Christós) do Pai. Não se equipara, portanto, com a invocação “Senhor, tende piedade de nós”, como sugere (na tradução portuguesa) a um canto penitencial. Trata-se de um canto de exaltação da parte da assembléia que reconhece Jesus como Senhor e como Cristo, o ungido de Deus. Equivocam-se, liturgicamente falando, aqueles que cantam somente o “Senhor tende piedade de nós” como canto penitencial, uma vez que não é canto penitencial. Torna-se penitencial quando acompanhado de uma súplica penitencial. Esta é, digamos, uma “confusão” iniciada a partir da reforma do Vaticano II, com a inclusão de ritos penitenciais invocativos com o “Senhor, tende piedade de nós” e, inclusive omitindo o Kyrie, quando assim ocorre. Hoje, a confusão aumenta com composições que cantam o original Kyrie e Christe no ato penitencial.
            A confusão pode ter origem na súplica que intercede a piedade divina. Ora, esta piedade não pode ser traduzida unicamente em função das faltas cometidas pelos celebrantes. A piedade divina é um modo com o qual Deus nos ama com amor misericordioso. Invocar a piedade divina é nos colocar na condição de criaturas, que reconhece a piedade divina presente no Senhorio de Jesus Cristo (Kyrios), aquele que foi ungido pelo Espírito Santo de Deus (Christos). Esta dimensão criatural, que canta o Kyrios de Jesus Cristo, é facilmente percebida na melodia solene de tantos tons gregorianos.


Glória in excelsis
            O canto do glória tem a peculiaridade de ser um rito próprio de glorificação a Deus, no início da celebração. É também um modo de adorar a Deus, glorificando-o em sua santidade e reconhecendo que somente Deus é Deus e não existe nenhum outro além dele.
A Igreja propõe no Missal uma única forma de glória — o “Gloria in excelsis Deo” (Glória a Deus nas alturas) — mas aceita outras fórmulas que se equiparem a esta, desde que sejam devidamente aprovadas pelas Conferências Episcopais e, em alguns casos, por Roma. Algumas canções usadas atualmente neste rito nem sempre são litúrgicas. Hoje, alguns liturgistas defendem outras fórmulas de louvor inicial, mas ainda sem a aprovação de Roma.
Tanto o Kyrie, entendido como canto de louvação ao Senhorio de Jesus Cristo, como o glória, enquanto canto de glorificação, caracterizam os ritos iniciais como ritos que introduzem os celebrantes diante de Deus, reconhecendo com seus louvores e glorificações que estão diante de Deus. Neste sentido, não tem nada a ver com cantos de animações, pois são orações laudativas.

Outras canções
            Entre nós, aqui no Brasil, foram introduzidas outras canções nos ritos iniciais, como o Sinal da Cruz e o ato penitencial. Somadas às três comentadas acima, todo o rito inicial pode ser musicado, incluindo a saudação inicial do padre e a coleta que conclui os ritos iniciais. É uma possibilidade também presente no Missal Romano e por isso viável para os ritos iniciais. Mas, me permitam algumas considerações.
            A primeira é quanto ao número de canções que, quando excessivas, do ponto de vista da comunicação litúrgica, não cumpre a finalidade dos ritos iniciais. O princípio da comunicação litúrgica, nos ritos iniciais, é introduzir os celebrantes no Mistério que será celebrado. Como dito acima, entende-se que tal introdução favoreça o silêncio, a calma e a tranqüilidade. O excesso de músicas pode provocar a dispersão e o cansaço, o que não é conveniente no início de um processo comunicativo como o da celebração litúrgica da Missa. Por isso, em algumas assembléias pode-se acrescentar uma ou mais canções, mas em outras, como em assembléias de crianças, por exemplo, isso não é recomendado.
            Outra consideração é quanto ao estilo de música. Se entendemos a finalidade dos ritos iniciais, as músicas mais apropriadas para este momento são aquelas menos agitadas e com um tom capaz de acalmar em vez de movimentar e agitar. Por isso, bater palmas, introduzir danças e coreografias podem prejudicar o andamento geral da celebração, além de estender os ritos iniciais (breves por natureza) a um tempo desproporcional e prejudicial ao equilíbrio celebrativo.
            Minha terceira consideração é quanto ao modo de instrumentalizar as canções. Refiro-me principalmente ao canto do ato penitencial, acompanhado de pandeiros, baterias e tambores. É um momento orante, de súplica de perdão, que deve ser respeitado pelos instrumentistas, facilitando a oração dos celebrantes com uma canção e com instrumentos adequados. Pandeiros, tambores e baterias servem, nos ritos iniciais (se bem tocados), para o canto de entrada e do glória, não para o ato penitencial, por exemplo.

Conclusão
            Os ritos iniciais são caracterizados como breves e introdutórios à celebração. Por isso, recheá-los de canções é um modo de torná-los pesados e seu prolongamento prejudica o equilíbrio temporal da celebração, quebrando, desde o seu início, o ritmo de toda a celebração.
(Serginho Valle)





3 de jun. de 2016

Princípios básicos da comunicação oral - IGMR 38

IGMR 38.       
Nos textos que o sacerdote, o diácono, o leitor ou toda a assembléia devem proferir em voz alta e distinta, a voz corresponda ao gênero do próprio texto, conforme se trate de leitura, oração, exortação, aclamação ou canto; como também à forma de celebração e à solenidade da assembléia. Além disso, levem-se em conta a índole das diversas línguas e o gênio dos povos.
            Nas rubricas, portanto, e nas normas que se seguem, as palavras “dizer” ou “proferir” devem aplicar-se tanto ao canto como à recitação, observados os princípios acima propostos.


            A presente orientação da Instrução Geral do Missal Romano (IGMR 38) relata um princípio básico da comunicação oral, num contexto particular, aquele da celebração da Missa. São coisas básicas, que se deduz do bom senso, como o fato de proferir em voz alta e distinta, com clareza, aquilo que se lê, para que todos ouçam e compreendam. É o que se aprende desde os primeiros exercícios de retórica ou de oratória: falar alto, com clareza para ser ouvido. A este princípio básico de ler em voz alta e clara, seguem dois outros elementos, na IGMR 38: respeitar o gênero comunicativo e a forma celebrativa.
            Quanto ao gênero, entende-se que uma oração, por exemplo, seja proferida na assembléia celebrativa de modo diferente de uma leitura, na Liturgia da Palavra. A primeira tem o gênero orante e a segunda o gênero proclamativo de uma mensagem. Um salmo tem o gênero poético, por isso pede uma comunicação declamativa, quando não for cantado. Por isso, a orientação da IGMR 38 quanto a proferir uma oração com o tom orante e proferir uma leitura com um tom proclamativo, um salmo com tom declamativo, etc... Um é o gênero das aclamações, que diz respeito ao gênero aclamativo e, outro, é aquele do canto que, como se comentará oportunamente, se divide em outros gêneros, de acordo com o momento celebrativo, no qual se faz uso de canções.
            A segundo distinção refere-se à forma de celebração. A Missa é sempre igual, mas a forma, o modo de celebrar varia. O jeito de celebrar com uma assembléia pequena, formada de poucas pessoas, é diferente do modo celebrativo de uma assembléia grande. A celebração da Missa com crianças ou jovens tem formato diferente da assembléia formada por enfermos, exagerando na comparação para se fazer compreensivo. Por isso, o tom de voz, a altura do som, o formato comunicacional difere. Em assembleias com menor número de pessoas, por exemplo, o tom de voz e a entoação é mais baixa e coloquial. A Missa semanal tem um formato comunicativo diferente daquela dominical. E assim por diante.


Nem tudo é tão básico assim: leitores e músicos despreparados
            Mesmo sendo básico, nem sempre tais princípios, que deveriam ser básicos, são acolhidos e percebidos em algumas comunidades. A escolha de leitores e leitoras que mal sabem ler, por exemplo, afeta consideravelmente tais princípios básicos pelo fato de não saiberem ler. Se não sabem ler, não sabem interpretar e, se não sabem interpretar tem-se uma má comunicação, quando não, ruídos capazes de perturbar toda uma celebração. Por isso, para que tais princípios básicos sejam colocados em prática é necessário que os leitores e leitoras saibam ler. Quem não sabe ler, primeiro aprende, depois se candidate às leituras.
            O mesmo vale para quem tem problemas de comunicação em público. Pessoas que ficam nervosas e mal conseguem balbuciar palavras quando estão diante de muita gente, pessoas com problema de dicção, crianças ou adolescentes que leem sem entoação e sem pontuação. Quanto a isso e por isso, a exigência de se ter leitores capacitados precisa ser levada a sério; não se pode admitir qualquer um para se fazer de qualquer jeito. A Palavra de Deus, em primeiro lugar, as pessoas que compõem a assembléia, a Eucaristia em si, merecem todo o respeito e quando se lê mal se desrespeita a Palavra, os celebrantes e a Eucaristia. Que seja feito sempre o melhor possível.
            O mesmo vale para alguns grupos musicais, que ainda não se tornaram ministérios de música. Ainda falaremos sobre isso, mas dentro do que diz a IGMR 38, é visível que muitos grupos musicais (por isso não os considero ministério) cantam na Missa, pois não são capazes de cantar a Missa. Passam a impressão que estão lá mais para se apresentar (por isso os chamo de grupos musicais) e não para servir a assembléia através de suas canções, de onde a função e a finalidade ministerial.
Serginho Valle



1 de jun. de 2016

Simplicidade – brevidade – clareza - solenidade

A Eucaristia nasceu num contexto de simplicidade e é na e pela simplicidade que os celebrantes se aproximam do Senhor, presente na Eucaristia. O ambiente, no qual Jesus instituiu a Eucaristia, era simples, os gestos de Jesus, na instituição, foram simples, os sinais do pão e do vinho são simples. Tudo, tudo na Eucaristia, especialmente no seu início evoca simplicidade. Se simplicidade foi o modo escolhido por Jesus para a celebração da Eucaristia é pela simplicidade que “ele está no meio de nós”, é pela simplicidade que o encontramos na Palavra e nos sinais. Quanto mais simples, portanto, forem nossas celebrações, mais próxima daquela realizada por Jesus estaremos.
            Depois, a história se encarregou de agregar ritos e complicações rituais, a ponto de ameaçar com pecados alguns erros litúrgicos, arriscando-se a uma perigosa aproximação da magia. Assim, pouco a pouco, começou-se a perder a simplicidade, na celebração da Missa, a ponto de a Missa se tornar uma espécie de sacra encenação diante de uma assembléia que participava quase que unicamente pela presença e com alguns gestos. Um dos objetivos da reforma litúrgica do Vaticano II foi o retorno às três características básicas da Liturgia romana: a simplicidade, a brevidade e a clareza, em vista da compreensão dos celebrantes (SC 34).
            O perigo da perda da simplicidade está no desvio do foco. Quando existem muitos acréscimos na Missa — ritos, canções, símbolos, procissões e danças, por exemplo — a tendência natural é se concentrar no exterior desses ritos e não na sua finalidade: a aproximação de Deus e o encontro com o Senhor. A introdução de outros ritos, na maior parte das vezes, considera apenas a beleza estética, o fazer bonito para fazer diferente e não a beleza ritual litúrgica para conduzir ao encontro com Deus. Por isso, a reforma do Vaticano II não acrescentou ritos, mas purificou a celebração de ritos que impediam a brevidade, a solenidade, a simplicidade e a clareza para favorecer a participação no Mistério Pascal de modo pleno e consciente. O princípio da simplicidade é que o rito não é para ser visto, mas é meio para se aproximar de Deus.
            Simplicidade tem a ver com as vestes do padre e dos ministros, com a homilia, com as canções, com os arranjos florais, etc... Depois de tantos anos caminhando com a Liturgia estou convencido que a simplicidade é mais exigente que a “criatividade livre” que, na maior parte das vezes, é personalista, pouco se importando nem com a proposta celebrativa e nem com as orientações litúrgicas. O personalista passa por cima de tudo, principalmente das orientações litúrgicas, porque o que conta é ele e seus caprichos. Busca o aplauso não a condução dos celebrantes a Deus.
            A grande virtude da simplicidade é deixar a Liturgia conduzir a celebração. Explico. No tempo da Quaresma, a Liturgia conduz celebrações silenciosas. Quando o personalismo de alguns músicos desconsidera a orientação litúrgica do silêncio, introduzirá baterias e pandeiros em celebrações quaresmais. O próprio padre corre o risco de deixar de ser presidente da celebração para se tornar uma espécie de “apresentador da Missa”. Celebrações com falas e cantos o tempo todo, inclusive nas secretas, na Oração dos fiéis e até na Oração Eucarística, quebram o ritmo simples e natural da comunicação litúrgica e a impede de ser simples. Poderíamos falar também de ritos dúbios, como procissões ofertoriais repletas de sinais e cestas para recolher dinheiro que não fazem parte do rito ofertorial, ou de orações para entregas de dízimo, no rito das ofertas, etc... etc...
            A celebração da Missa é um convite constante que nossas Equipes de Liturgia e suas Equipes de Celebrações recebem da Liturgia para avaliar o modo como celebram a Eucaristia na comunidade. De tanto introduzir ritos, algumas Eucaristias se tornaram mais devocionais que celebrativas. Quando os autores de tais celebrações são questionados, respondem com uma desculpa barata: “o povo gosta”. E assim, padres e equipes preferem a lei impositiva do “povo gosta” para conduzir suas liturgias que o princípio da simplicidade, presente nas orientações da Igreja.
Serginho Valle



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