11 de mai. de 2016

Presidir a Missa com a assembléia

São mais de 50 anos que o padre preside a celebração da Missa voltado para o povo. Assim, demonstram várias fontes históricas, era no início da Igreja, depois mudou. Por um bom período, a Missa era celebrada pelo padre, no altar, não de frente para a assembleia, mas de frente para o altar. Na celebração da Missa, antes da reforma litúrgica, em alguns ritos, o padre voltava-se para a assembléia a saudava, convidava à oração e fazia a homilia.
            Para quem está chegando agora e para a geração dos que completam até 40 anos de idade, ver o padre voltado para a assembléia é a coisa mais natural do mundo. No início, quando a Liturgia retomou o modo original de celebrar a Eucaristia, com o presidente de frente para a assembléia, muita gente deixou de ir à Missa. E ainda hoje, tem gente que não aceita este modo de celebrar a Eucaristia. Querem que o padre não olhe para o povo, mas com o povo esteja voltado para o altar.
            A celebração da Missa com o padre de frente para a assembléia retoma o modo original de celebrar, nos primeiros tempos da Igreja e se fundamenta em razões teológicas. Do ponto de vista pastoral, demonstra que está diante da assembléia para exercer um ministério: prestar o serviço de presidir a assembléia celebrativa com a comunidade. A Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium fundamenta teologicamente tal serviço dizendo que Cristo está presente no padre que preside a assembléia (SC 7). Isso significa que o padre é sacramento, é sinal de Cristo presidindo a Eucaristia, pois age “in persona Christi”. No rito de Pio V, todos, inclusive o padre, se voltam para o altar. No rito de Paulo VI, que usamos atualmente, todos, inclusive o padre, se reúne ao redor do altar. Muda a direção, mas não muda a essência teológica da celebração.
            No atual rito de Paulo VI, o espaço ocupado pelo padre na Missa é de estar diante da assembléia, e também como parte da assembléia, reunida em torno do altar, que é Jesus Cristo. Existem momentos que o padre está no meio do povo e momentos, como na Eucaristia, que ele é chamado a servir seu povo, estando na frente da assembléia litúrgica. Este é um motivo forte para entender que o padre não é o “dono da Missa”, mas aquele que preside a Missa. A Missa é sempre da Igreja, reunida em assembléia celebrativa e assembléia eucarística, isto é, uma assembléia de ação de graças. Na celebração Eucarística o padre é um servidor e um sinal da presença do Cristo que, como em Emaús, partilha o pão e o vinho na parada que fazemos em nossa caminhada. Como em Emaús, o padre representa Jesus partilhando o pão e o vinho eucaristizados, sentados na mesma mesa; um voltado para o outro.
            Os padres precisam ter consciência do seu ministério na Missa. Ter consciência que estão diante da assembléia não como animadores de auditório, nem artistas que se apresentam a uma platéia e muito menos para cumprir uma obrigação profissional, como se fossem profissionais da religião. O padre precisa ser bom na arte de comunicar para favorecer uma participação ativa e consciente, rezando, ouvindo a Palavra e animando o caminho no discipulado. Quando o padre entende que estar na frente da assembléia é convite para transformar o presbitério em palco, então a Missa é colocada em segundo plano, o padre deixa de exercer seu ministério de serviço presidencial. Do ponto de vista da Teologia Litúrgica, o padre não foi ordenado para ser apresentador da Missa, mas seu presidente, aquele que a preside com o povo e para o povo, que é a Igreja reunida em assembléia celebrativa.
Serginho Valle



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Um comentário:

  1. Transcrevo as palavras do Papa Bento XVI sobre a Liturgia do livro “Luz do mundo”:

    “Esse é um assunto vasto. Quer dizer que não devemos celebrar a liturgia à imagem e semelhança da paróquia, dizendo que é importante que cada um participe pessoalmente, e depois, no fim, só o próprio “eu” importe realmente. Trata-se muito mais de entrarmos em algo muito maior. Trata-se, de algum modo, de podermos sair de nós próprios e mergulhar na imensidão. É por isso que é tão importante que a liturgia não seja, de modo algum, uma criação de cada um. A liturgia é, na verdade, um processo através do qual nos deixamos introduzir na fé e na oração profundas da Igreja. É por essa razão que os primeiros cristãos rezavam virados para o Oriente, para o nascer do Sol, o símbolo do Cristo que regressa. Eles queriam com isso mostrar que o mundo inteiro vai ao encontro de Cristo e que Ele abraça totalmente esse mundo. Essa relação com o Céu e a Terra é muito importante. Não é por acaso que as igrejas antigas eram construídas assim, de forma a deixar que a luz do Sol penetrasse num momento muito específico na igreja. Precisamente hoje, que temos de novo consciência do significado da interdependência entre a Terra e o universo, deveríamos voltar a reconhecer o caráter cósmico da liturgia. Bem como o histórico. Deveríamos reconhecer que ela não foi só inventada, algures no tempo e por uma pessoa qualquer, mas que se desenvolveu organicamente desde Abraão. Esses elementos provenientes dos tempos mais antigos estão na liturgia. Em termos concretos, a liturgia renovada pelo Concílio Vaticano II é a forma válida de a Igreja celebrar hoje a liturgia. Quis melhorar o acesso à forma anterior sobretudo para manter a coesão interior da História da Igreja. Não podemos dizer que antes estava tudo errado e agora está tudo certo, porque, numa comunidade na qual a oração e a eucaristia são o mais importante, não pode ser totalmente errado o que antes era o mais sagrado. Para mim, o importante era a reconciliação interior com o próprio passado, a continuidade interior da fé e da oração da Igreja.”

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