Diante
da impossibilidade de um tratado completo sobre Liturgia neste espaço, por
motivos óbvios, decidi por uma reflexão capaz de favorecer uma compreensão dinâmica
de todo o contexto litúrgico. Optei por acender a luz do “serviço” como forma
de compreender a ação litúrgica da qual participamos e realizamos. Este é o
primeiro de quatro pequenos artigos sobre a Liturgia na ótica do serviço.
Existem vários motivos da minha escolha, a começar pela
palavra “Liturgia”, que tem no seu DNA a luz e a inspiração do serviço e do
servir. Liturgia não é uma palavra portuguesa, é uma palavra grega que, por sua
vez, se compõe com duas outras palavras gregas: “Laos” (povo) e “ergon”
(serviço). No coração da Liturgia, portanto, está o serviço e, um detalhe, o
serviço prestado ao povo; um serviço que seja para o bem-estar do povo. Neste
sentido, na Grécia antiga, o serviço militar, pelo qual os soldados defendiam e
garantiam a segurança do povo, chamava-se “liturgia”. Da mesma forma, o serviço
social ou político era uma Liturgia, porque era feito como dedicação de um
serviço ao povo. Antes de a Liturgia deixar a vida leiga para ingressar nos
templos e santuários, seu sentido definia todo serviço a favor do povo e para o
bem do povo. Por isso, não custa repetir, o DNA da Liturgia é formado pelo
serviço e todo liturgo, por sua vez é um diácono do povo, quer dizer, um
servidor do povo.
É interessante perceber que o motivo da sacralização da
Liturgia se deve justamente a esta característica do serviço em favor do povo,
do serviço pelo bem-estar do povo. Se assim é, quem é o servidor do povo no ato
litúrgico? Quem é o grande liturgo que se faz diácono, na Liturgia? A resposta
não é única, pois comporta vários sujeitos, protagonistas e agentes. É a partir
deste fato, do ponto de vista humano, que se entende a dimensão ministerial
como essencial na atividade litúrgica, especialmente presente nas celebrações. Isto
traz várias conseqüências e abre vários caminhos, dos quais vamos acenar apenas
para três deles: o serviço divino, o serviço eclesial e o serviço ministerial
celebrativo.
O mais importante deles é o serviço divino, do qual
trataremos na próxima semana. Para o momento, fica a proposta de considerar a
Liturgia em ato, as celebrações, como momento diaconal, de serviço em favor do
povo e para o bem do povo. As celebrações de sua comunidade favorecem a vida e
o bem estar (ao menos espiritual) do povo da comunidade?
Serginho
Valle
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