27 de jun. de 2015

Em meio a tantas crises e corrupção é preciso celebrar a esperança



Num momento marcado por tantas incertezas, celebrar a esperança é um modo de fortalecer a fé, a confiança e a certeza que Deus está ao nosso lado.


 A vida ensina que ao olhar para o futuro é prudente colocar os pés no chão, pensar no presente. Por isso, as preparações de nossas celebrações e o modo como celebramos precisam ser iluminadas por perguntas como: o que vemos em nossos dias? O que vivemos no momento presente? Longe de alienar, cada celebração deve anima a esperança provocando uma reflexão sobre a vida presente. Não celebramos para alienar, mas para iluminar o presente com a força da esperança.
            Em meio as tantas crises que vivemos em nossos tempos, com tantas ameaças rodeando-nos de todos os lados, não podemos celebrar de modo alienado, mas dentro da nossa realidade de crise, de corrupção, com o assalto que políticos e empresários fizeram (e fazem) ao nosso povo. Mesmo que seja revoltante, a celebração litúrgica jamais apaga a luz da esperança. O provérbio bíblico, “quem semeia vento colhe tempestades” (Pv 22,8), é um sinal de alerta em todas as celebrações. Não para se ficar inerte, mas para enfrentar os desmandos contra o povo de modo sóbrio e sem a violência destruidora.
            Cada vez mais fica claro que a sociedade está sedenta de paz, de fraternidade e repudia abertamente todos os focos de fanatismos que provocam mortes, destruições e corrupção. O povo confiou seu destino a homens e mulheres que, talvez, tivessem boas intenções e fossem sinceros antes de assumirem seus mandatos políticos. Mas eles fracassaram diante do ídolo econômico. A tentação de ser rico abafou seus ideais, a possibilidade de viver na riqueza impediu que olhassem o povo e se voltassem egoisticamente para si. Sim, o povo foi traído e hoje querem que paguemos os erros daquela gente que perdeu o caráter e manchou a vida com o lodo da corrupção. Tudo isso aparece em nossas celebrações, não para fomentar a raiva e o ódio, mas para repudiar o pecado social e a ganância que mata o pobre. Celebrar a esperança é denunciar profeticamente o veneno que mata a vida de milhões de pessoas.
            Tantas vezes, ouvimos e cantamos em nossas celebrações a esperança que nos move para ir a Jerusalém, a cidade da paz. Onde está essa Jerusalém, “cidade da paz”, que tanto fala a Bíblia? — Em nossas celebrações, não se trata de um local geográfico, mas de uma cidade (uma sociedade) a ser construída. Nossas celebrações sempre cantam a esperança que um dia, já aqui na terra, poderemos habitar na Jerusalém, na “cidade da paz”. Uma cidade que será iluminada pela luz do Evangelho, fundamenta na justiça, na fraternidade e na paz entre todos os povos. Hoje, neste tempo de crise, somos peregrinos e construtores da Jerusalém, da “cidade da paz”. Lembremos o pensamento do Sl 127: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam; se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela.” Nós celebramos esta fé e esta esperança de que somente com a luz divina podemos construir uma cidade nova, uma sociedade mais justa e mais fraterna.
(Serginho Valle)




20 de jun. de 2015

A espiritualidade litúrgica e os idosos




Resultado de imagem para elderly prayingNem sempre é fácil para os idosos participar ativamente das celebrações. Um grande número deles celebrava a Liturgia em latim e, agora, muitos sentem dificuldade de rezar na celebração depois da reforma conciliar. É o que vemos, por exemplo, quando alguns idosos rezam o terço durante a Missa. A Missa não é momento para rezar terço, mas para celebrar a Eucaristia. Para o terço existem outros momentos do dia. (De vez em quando, vejo alguns menos idosos rezando o terço durante a Missa. Um gesto, no mínimo, estranho). Não vamos criticar os idosos por isso e nem mesmo impor-lhes uma proibição. Nosso intuito é ajudá-los a celebrar bem em vista do seu crescimento espiritual.
À medida que os anos avançam e ficamos idosos, tendemos a nos aproximar mais de Deus, a fonte da vida plena e sempre jovem. Quando as debilidades do corpo se manifestam, a força espiritual tende a crescer. E é justamente nesta possibilidade de crescimento espiritual. Oferecido naturalmente pelo movimento psicológico humano, que somos provocados a favorecer uma qualidade celebrativa para o crescimento da espiritualidade na vida dos idosos. A Liturgia oferece inúmeras possibilidades; faço apenas alguns acenos.
Quanto às celebrações da Eucaristia, além de Missas especiais para com os idosos, ter cuidado com a linguagem celebrativa, com celebrações dominicais mais pausadas (menos agitadas), com mais tempo para oração silenciosa, respeitando o compasso da vida do idoso. Isto seria possível reservando, por exemplo, um horário para uma Missa dominical mais silenciosa, mais calma e mais orante.
Pode-se também promover celebrações penitenciais, que ajudem os idosos a reverem a vida não como culpa por aquilo que não fizeram bem em sua longa história existencial, mas como momento de gratidão por serem tocados tantas vezes pelo perdão divino. Celebrações penitenciais de gratidão, não de culpalização.
Um lugar muito especial, para o crescimento da espiritualidade dos idosos, na Liturgia, é ocupado pela celebração da Unção dos Enfermos, que poderá ser feita de maneira coletiva em datas especiais da comunidade, como Páscoa, Natal e festa do padroeiro.
Junto a isso, a Liturgia oferece inúmeras celebrações de Bênçãos, que podem ser realizadas com a presença dos idosos, como por exemplo, a bênção de remédios. Ainda neste contexto de celebrações especiais, pode-se promover de tempos em tempos, celebrações temáticas com a Liturgia da Palavra para exaltar um momento especial da vida, como o valor da sabedoria da vida, a riqueza existencial pela experiência dos anos.
Um último aceno para reforçar a importância da Liturgia como local e meio para ajudar o idoso a crescer espiritualmente. Sabemos que o idoso nem sempre é respeitado em seus direitos. É um fato social preocupante. “A palavra velho traz consigo um conjunto imenso de conotações pejorativas. Numa sociedade que idolatra a juventude, a beleza e a força física, ser velho significa estar envolvido em um universo de rejeição, preconceitos e exclusão” (Texto-base da CF2003, n. 7). Por causa do preconceito, grande número de pessoas tem medo de envelhecer e, tantos que atingiram a idade senil não vivem comodamente como idosos. A possibilidade de propostas para celebrar a vida na idade avançada é uma oportunidade que a Igreja pode oferecer para agradecer a Deus a graça de viver tantos anos e chegar à velhice, como se lê em tantos textos bíblicos. O favorecimento do crescimento da espiritualidade, na vida do idoso, o torna agradecido e não envergonhado de sua idade. Por isso, além de encontros que a comunidade proporciona à chamada “terceira idade”, não se pode esquecer o favorecimento do crescimento espiritual através da Liturgia. A espiritualidade aproxima o idoso de Deus e isso o harmoniza internamente com a paz e a serenidade.
(Serginho Valle)


17 de jun. de 2015

Celebração litúrgica não é palco




Outro dia, numa conversa com leigos, um deles comentou um fato que eu não sei definir se inquietante ou preocupante. Talvez o segundo adjetivo qualifique melhor aquela história ou, quem sabe, unindo os dois tenhamos um resultado mais realista do fato. Eram leigos de diversas comunidades e cada um deles dizia ter conhecimento de fatos semelhantes, o que faz aumentar a inquietação. 
            Aconteceu com uma banda musical que exercia o ministério da música numa comunidade. Tocavam mal e alto. Um dia, o padre os chamou e, com muita caridade, fez ver que o trabalho deles era importante, mas do jeito que estava sendo feito, sem se prepararem devidamente, nunca ensaiando as canções e escolhendo músicas em cima da hora dificultava o caminho que a Pastoral Litúrgica da comunidade estava fazendo. Eles protestaram e queriam bater boca com o padre. Educado e acostumado a conversar, o padre os ouviu e pediu que repensassem seu modo de agir, porque a Liturgia merece o melhor.
            Como a tática do bate boca não funcionou, porque o padre lhes mostrou, com dados inquestionáveis, que eles não estavam bem neste serviço litúrgico, eles apelaram e desafiaram o padre: “ou a gente toca do jeito que a gente quer ou ninguém mais toca nesta Missa”. O padre ponderou que não é assim que funciona a coisa e fez ver que eles não eram os donos da missa. A proposta era outra: exercer o ministério da música como a Pastoral Litúrgica da comunidade estabelecera para todos os ministérios. Depois daquela conversa, o pessoal da banda disse que não queria mais saber da Igreja e da comunidade e foram embora, alguns, inclusive, foram para uma Igreja evangélica, concluiu o leigo.
            Outro participante do grupo disse que algo semelhante havia acontecido com uma catequista da comunidade, outro emendou e falou que um ministro da distribuição da comunhão também deixou a Igreja por um desentendimento, outro falou de um Leitor que não escolhia trabalho e porque alguém lhe disse que precisava participar mais da preparação das Missas, não gostou e sumiu. Com casos assim, a conversa se estendeu por um bom tempo. No final, um deles questionava sobre o que essa gente tinha na cabeça para agir assim. Uma senhora, muito simples, ponderou: “eu acho que tem coisas demais na cabeça e pouco Jesus no coração”. Acertou! De fato, quem abandona o projeto de Jesus e abandona a Igreja porque não pode fazer do jeito que quer, demonstra ter pouco Evangelho no coração. As pastorais e, em especial a Pastoral Litúrgica exige respeito às normas da Igreja e harmonia para que o trabalho alcance seus objetivos. Celebração litúrgica não é palco.
            Lembrei-me dessas conversas, preparando-me para refletir sobre Ministérios Litúrgicos. Muitos trabalham na Igreja, dedicam-se à comunidade, mas ainda não transformaram a vida em Evangelho; ainda não se alimentaram o bastante de Jesus Cristo a ponto de buscar o que é bom para todos. É uma análise dura, mas não deixa de ser realista. É o exemplo daqueles discípulos de Jesus que conheciam sua doutrina, mas se negavam a alimentar-se da vida do Cristo e foram embora (Jo 6,66).
(Francisco Régis)

12 de jun. de 2015

Absolvição no sacramento da Penitência e na Missa







Absolvição: Palavra de origem latina – absolvere – que significa perdoar, libertar. Na celebração  litúrgica, a absolvição é o rito celebrativo pelo qual Deus perdoa o pecador que manifesta sua conversão ao ministro da Igreja (Bispo ou padre) na Confissão sacramental. Na fórmula ritual da absolvição manifesta-se que a origem do perdão encontra-se na misericórdia divina, graças a redenção de Jesus Cristo, por obra do Espírito Santo.

Existe um outro rito que também é denominado de “absolvição”. Este encontra-se no final do rito penitencial da Missa e inicia-se com as palavras “Deus todo-poderoso, tenha compaixão de nós...” Não é um gesto sacramental de perdão dos pecados, como acontece na celebração do Sacramento da Penitência, mas uma invocação do perdão divino para que todos que celebram aquela Eucaristia, padre inclusive sejam purificados e dignos desta celebração. O texto ritual da Missa é muito claro: “Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós, perdoe os nossos pecados e nos conduza à vida eterna”. O texto fala de nós; não invoca o perdão para um “vós”. Por isso, o gesto sacerdotal, neste momento, não é de imposição de mãos, como se vê em algumas celebrações, mas de mãos juntas, com uma inclinação diante de Deus para que todos, padre incluso, possam celebrar dignamente os mistérios divinos, na Eucaristia. 
(Serginho Valle)
 
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